Milhares de mulheres se manifestaram nessa segunda-feira (19) em
frente ao Congresso argentino para pedir uma lei que descriminalize o
aborto. Uma campanha feita durante o dia no Twitter transformou o pedido
no assunto mais comentado no país na rede social.
As associações
organizadoras da concentração em Buenos Aires fazem parte da Campanha
Nacional pelo Aborto Legal, Seguro e Gratuito, que pediu que as
manifestantes levassem lenços verdes, símbolo do movimento que em 11
anos apresentou em seis ocasiões a proposta parlamentar de uma lei de
interrupção voluntária da gravidez.
Apesar de, em todas essas
ocasiões, ter perdido sua vigência por não ser tratada, a proposta
voltará a ser levada ao Congresso nos próximos dias, afirmou à Agência
EFE a dirigente da organização Plenária de Mulheres, Vanina Biasi, que
denunciou que a atual proibição faz com que entre 50 mil e 100 mil
mulheres terminem hospitalizadas após abortar clandestinamente.
Segundo
as organizações feministas, que citam dados de alguns anos atrás do
Ministério da Saúde, na Argentina é registrado meio milhão de abortos
por ano.
Biasi argumentou que a descriminalização dessa prática
não eleva o número de casos, e destacou que enquanto a Argentina e a
Espanha têm uma população similar, os números no país sul-americanos são
mais elevados que na Espanha, onde a interrupção voluntária da gravidez
está contemplada em uma lei de prazos.
A questão é um "debate
necessário", disse à EFE Victoria Freire, membro da organização
feminista Mala Junta, que criticou que mesmo os casos de aborto
permitidos na Argentina (estupro e risco para a saúde da mãe) "muitas
vezes não são respeitados".
Para Freire, o aborto não é um
problema moral, mas "de saúde pública, da vida e do direito de decidir
de todas as mulheres". Ela contou que, diante da proibição em vigor, há
"redes" de mulheres que proporcionam fármacos abortivos para evitar os
prejuízos que podem ser provocados pelos abortos clandestinos.
As
duas ativistas concordaram em suas críticas à igreja católica pela
rejeição à interrupção da gravidez, e lembraram que nem o atual governo
de Mauricio Macri, nem os kirchneristas anteriores (2003-2015) quiseram
tratar as propostas sobre o tema.
"Sabemos que só vão nos escutar quando nas ruas sejamos cada vez mais mulheres", comentou Biasi.
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