sexta-feira, dezembro 14, 2018

Escavação descobre nove ossadas do primeiro cemitério público de SP.

Conhecido hoje pelas tradições japonesas, o bairro da Liberdade, no centro da capital paulista, guarda em seu subsolo vestígios que revelam raízes culturais diferentes. Em um terreno que se estende da Rua dos Aflitos até a Rua Galvão Bueno, um trabalho arqueológico desenvolvido nos últimos três meses levou à descoberta de nove ossadas humanas. Na área, funcionou, de 1775 a 1858, a primeira necrópole de São Paulo, o Cemitério dos Aflitos. Durante a escavação foram encontrados adornos como contas de vidro, característicos da cultura africana.

“Em um dos sepultamentos, a gente percebeu a presença de duas contas de vidro junto ao que seria o pescoço do esqueleto, contas azul-marinho, que tem uma simbologia na tradição religiosa africana, então a gente supõe que aquele indivíduo era um escravo, era um africano”, explicou Lúcia Juliani, diretora técnica da empresa de consultoria arqueológica responsável pelas escavações.

A empresa foi contratada pela proprietária do terreno onde antes haviam dois prédios que foram demolidos para que novos empreendimentos comerciais fossem erguidos. Com a obra, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo e o Conselho Estadual de Defesa do Patrimônio Histórico orientaram para que fosse feito um levantamento na área, pois ela está dentro do envoltório de tombamento da Capela dos Aflitos na Liberdade.

Na primeira fase da pesquisa, o levantamento histórico apurou que esse cemitério era reservado a quem, de alguma forma, era marginalizado socialmente: escravos, presos, pobres, pessoas com doenças contagiosas, condenados à forca e sem família. A historiografia apontava ainda que os ossos haviam sido transferidos para o Cemitério da Consolação, quando da desativação do Cemitério dos Aflitos. “A arqueologia provou que isso não é bem verdade. Talvez tenham removido uma parte, talvez não tenham removido nada”, apontou Lúcia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário