domingo, dezembro 09, 2018

No interior da França, ódio à política e à elite.

O sol ainda não tinha raiado quando os primeiros “coletes amarelos” começaram a chegar nesse sábado, 8, no local designado para a manifestação em Anthy, cidade francesa com pouco mais de 2 mil habitantes no Departamento da Alta Saboia, na região de Auvérnia-Ródano-Alpes . O preço da gasolina, que motivou o início de protestos como esse há um mês, justamente no interior, já não é um tema no grupo. Hoje, há reivindicações heterogêneas de um público, pelo menos em Anthy, bastante homogêneo.

Antes de gritar contra o presidente Emmanuel Macron, os 4ºC do final do outono exigiam que fogueiras fossem acesas. Num outro canto, croissant, baguete e outros produtos locais eram trazidos. Dentro de uma barraca, uma senhora preparava café quente e chá para os manifestantes.

“Essa aqui é nossa aldeia gaulesa”, explica Nadège Leyglene, numa referência às histórias de Asterix, o símbolo de uma França autossuficiente e, claro, soberana e nacionalista. No ano passado, Macron polemizou ao criticar cidadãos que se recusavam a aceitar reformas, alertando que os franceses eram “gauleses refratários”. “Bom, se Macron disse que somos gauleses, montamos então nossa aldeia”, ironiza Nadège, vestindo um gorro com chifres.

Longe de Paris, a reportagem acompanhou o dia de manifestação no interior da França, base original do movimento que já chegou a todos cantos do país. Nesse sábado, houve mais de mil prisões e dezenas de feridos. Na Alta Saboia, uma das áreas mais conservadoras do país, várias foram os pontos de ação dos “coletes amarelos”. Um dos locais escolhidos foi uma rotatória com intenso movimento aos pés dos Alpes. Conforme os carros circulavam, a ordem era de não impedir a passagem, mas garantir que o movimento chamasse a atenção. Muitos motoristas faziam sinais de apoio, buzinando ou entregando frutas.

Entre os cerca de 80 manifestantes, duas eram as palavras mais repetidas para explicar o motivo pelo qual estavam ali: a “raiva” contra a elite no poder e a “decepção” em relação aos partidos tradicionais. Se o movimento começou para frear a ideia de uma elevação de impostos sobre os combustíveis, quatro semanas depois, a reivindicação é bem mais ampla. “O que queremos é ter garantias de chegar ao final do mês”, explica Nadège, espécie de síndica da aldeia.

Entre suas reivindicações está uma alta dos salários, redução de impostos e o fim dos privilégios para a classe política, além da criação de um sistema de consultas populares.

Enquanto mantinha acesa uma fogueira em um dos cantos do acampamento improvisado, Augustin não escondia sua decepção. “Como é que podemos trabalhar toda a vida para uma aposentadoria de € 700 (R$ 3,1 mil)?”, questiona. “Quem é que consegue viver com isso?”.

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