O Brasil assinou hoje (20) o Tratado para
Proibição de Armas Nucleares. O presidente Michel Temer foi o primeiro a
assinar o texto, seguido por líderes de 42 países. Ao longo do dia,
mais oito países devem firmar o documento. O acordo impede que os
Estados-parte desenvolvam, testem, produzam, adquiram, tenham ou
estoquem armas nucleares ou qualquer outro dispositivo nuclear
explosivo.
A conferência para negociar o texto foi
proposta pelo Brasil, a África do Sul, Áustria, Irlanda, o México e a
Nigéria no fim de 2016. O tratado obriga os Estados-parte a não
participar ou permitir atividades relacionadas ao uso e também ao
desenvolvimento de armas nucleares. O texto do tratado foi acordado no
último dia 7 de julho. A segunda etapa é a assinatura de hoje, embora
esse seja apenas o primeiro dia para assinatura, que pode ser feita por
outros países a partir de agora. Depois disso, ainda é necessário que
cada país que tenha assinado o texto faça a ratificação, e o acordo só
passa a valer depois que 50 países tiverem passado por todo o processo.
O embaixador Sergio Duarte, ex-alto
representante da ONU para Assuntos de Desarmamento e atual presidente da
Organização internacional sobre Relações internacionais Pugwash, diz
que o tratado proíbe a última categoria de arma de destruição em massa
que não estava proibida: “armas químicas e armas biológicas já estão
proibidas por tratados internacionais, esse tratado cuida da terceira e
última categoria, a arma nuclear, que é a mais cruel e a mais
indiscriminada de todas as três”. As armas biológicas foram proibidas em
1972, e as químicas em 1993.
Cristian Wittmann, professor da
Universidade Federal do Pampa, diz que, apesar da ausência das potências
nucleares na negociação do tratado, ele não deixa de ser eficaz: “em
primeiro lugar, ele retoma o debate sobre a importância da eliminação
das armas nucleares, aumentando a pressão nos países nuclearmente
armados. Ele também traz novos aspectos quanto ao financiamento dessas
armas e atividades militares conjuntas que possam envolver armas
nucleares”.
O sobrevivente do bombardeio com armas
nucleares de Nagasaki em 1945, Terumi Tanaka, disse que se sente muito
feliz e sentiu vontade de chorar ao ver o tratado ser assinado, pois vem
trabalhando nisso há mais de 70 anos. Ele tinha 13 anos quando tudo
aconteceu e diz que se lembra muito bem do dia: “uma das minhas memórias
mais fortes é das pessoas queimadas debaixo das casas, por toda parte, e
não só pessoas queimadas, mas também o fato de elas terem sido deixadas
sozinhas, ninguém foi fazer nada para ajudá-las. Em um dia, mais de 10
mil pessoas morreram”.
O ministro das Relações Exteriores da
Áustria, Sebastian Kurz, afirma que, apesar de muitos argumentarem que
as armas nucleares são indispensáveis para a segurança nacional, essa
ideia é falsa: “O novo tratado oferece uma alternativa real para a
segurança: um mundo sem armas nucleares, em que todos estarão mais
seguros, onde ninguém precisa ter armas nucleares”.
Durante o discurso para assinatura do
tratado, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António
Guterres, lembrou as vítimas de Hiroshima e Nagasaki. Estima-se que
existam cerca de 15 mil ogivas, mais de 4 mil em estado operacional. Os
gastos de potências nucleares com a manutenção e modernização dos seus
arsenais é de cerca de US$ 100 bilhões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário