sexta-feira, maio 07, 2021

Pessoas que já tiveram dengue têm duas vezes mais chance de ter a forma sintomática da covid-19.

Estudo divulgado nesta quinta-feira, 6, na revista Clinical Infectious Diseases sugere que as pessoas que já tiveram dengue no passado são duas vezes mais propensas a desenvolver sintomas da covid-19 caso sejam infectadas pelo novo coronavírus.

As conclusões descritas no artigo se baseiam na análise de amostras sanguíneas de 1.285 moradores da cidade de Mâncio Lima, no Acre. O trabalho foi coordenado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Marcelo Urbano Ferreira e contou com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

"Nossos resultados evidenciam que as populações mais expostas à dengue, talvez por fatores sociodemográficos, são justamente as que correm mais risco de adoecer caso sejam infectadas pelo SARS-CoV-2. Este é um exemplo do que tem sido chamado de sindemia [interação sinérgica entre duas doenças de modo que uma agrava os efeitos da outra]: por um lado, a covid-19 tem atrapalhado os esforços de controle da dengue, por outro, esta arbovirose parece aumentar o risco para quem contrai o novo coronavírus", diz Ferreira à Agência Fapesp.

O professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP tem realizado estudos no município de Mâncio Lima há sete anos com o objetivo de combater a malária. Em 2018, deu início a um projeto que prevê a realização de inquéritos domiciliares a cada seis meses, abrangendo 20% da população local. Durante as visitas, são aplicados questionários e coletadas amostras de sangue. No início de 2020, o projeto recebeu um aditivo da Fapesp para que parte dos esforços de pesquisa fosse direcionada ao monitoramento e à caracterização do SARS-CoV-2 na região.

"Em setembro do ano passado foi divulgado um estudo de outro grupo sugerindo que as áreas que registravam muitos casos de dengue eram relativamente pouco afetadas pela covid-19. Como nós tínhamos amostras de sangue da população de Mâncio Lima coletadas antes e após a primeira onda da pandemia, decidimos usar o material para testar a hipótese de que a infecção prévia pelo vírus da dengue conferia algum tipo de proteção contra o SARS-CoV-2. Mas o que vimos foi exatamente o oposto", relata Ferreira.

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