sexta-feira, agosto 06, 2010

Areia de praias de Natal pode causar doenças graves

Por Luan Xavier.

Uma ameaça à saúde humana está presente na maioria das praias de Natal e cidades litorâneas do estado. Trazido por meio das tubulações de drenagem pluvial, dejetos e efluentes se acumulam na areia das praias, formando a chamada "língua negra", causando mau cheiro e poluição visual. Apesar de semanalmente serem divulgados boletins sobre a balneabilidade das praias - através do Programa Praia Azul - pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), não existe um controle de poluição sobre a areia, colocando em risco os banhistas, principalmente as crianças, que mantém maior contato com a praia e são mais suscetíveis a contrair enfermidades.

Segundo o professor Dr. Ronaldo Fernandes, coordenador do Programa Água Azul, que estuda a balneabilidade das praias do estado, a língua negra é sinônimo de areia contaminada. Apesardos ricos, a falta de recursos e a menor representatividade, em relação ao mar, são fatores que resultam na falta de análise das condições ambientais da areia. "A análise da areia é mais trabalhosa que a da água e a água representa muito mais que a areia, já que esta tem uma área delimitada, ao contrário do mar, onde o alcance é muito maior", explica.

O professor alerta para o risco do contato com a areia poluída. De acordo com ele, a areia contaminada oferece risco à pele, principalmente, e pode provocar desde micoses até doenças mais graves, como leptospirose e toxoplasmose. "Recomenda-se que a pessoa permaneça longe das línguas negras, porque elas são sinais de que aquela areia está contaminada", lembra o professor, que é doutor em geologia costeira e ambiental.

Poluição deixa turistas apreensivos

Nossa reportagem visitou algumas praias da capital e constatou a presença de vários pontos onde as chamadas línguas negras se faziam presentes, com destaque para as praias do Meio e Ponta Negra. Nesta última, banhistas reclamaram da poluição visual causada pela mancha escura deixada pelo esgoto na areia e atribuíram a responsabilidade aos empreendimentos localizados próximos à praia. "É muito chato isso. Tem que colocar um filtro para que não passem todos esses poluentes", disse o turista paulistano Francisco Teles, 40. Sua esposa, Ednelza Teles, acredita que as crianças ficam mais sujeitas ao risco de contaminação, já que ficam mais tempo em contato com o solo. "A gente teme que se possa pegar alguma micose ou outra doença de pele mais grave", ressalta.

O barraqueiro Hugo da Silva, 18, lembrou que um pescador que ele conhece e mora na Vila de Ponta Negra está impossibilitado de trabalhar devido a uma infecção na pele. Segundo o barraqueiro, a enfermidade é resultante do contato com a areia, já que o local onde o esgoto escorre com mais frequência na praia e a mancha negra é mais notável, é o mesmo onde os pescadores guardam seus pequenos barcos e jangadas.

Na Praia do Meio a situação é a mesma. Comerciantes e banhistas se sentem incomodados com o problema que, segundo eles, dura há vários anos. Nas proximidades da estátua de Iemanjá, nossa reportagem constatou a presença de muito lixo, fezes e roedores mortos. "Eu acho isso uma vergonha. É arriscado alguma criança pegar um germe ou uma doença grave. Todo mundo reclama dessa situação. Tem turista que chega, vê isso aí e desiste de descer à praia", afirma Paulo André do Nascimento, 40, vendedor ambulante.

Fique ligado

A dermatologista Ládia Fernandes esclarece alguns pontos importantes no que diz respeito aos riscos que a areia contaminada pode representar à saúde da pele a aos cuidados que as pessoas devem tomar após entrar em contato com ela.

As ameaças

A presença de animais mortos e fezes representa um sério risco de afecção de larvas migrans, provenientes de cães e gatos, principalmente. O material orgânico decomposto, quando presente na areia, pode causar a proliferação de germes e bactérias que facilmente penetram na pele das crianças, principalmente, por estes terem a derme mais fina, serem mais suscetíveis a contrais doenças, devido a baixa imunidade e por permanecerem mais tempo em contato com a areia. O contato com o solo infectado pode causar também leves irritações na pele após a ida à praia.

Os cuidados necessários

A dermatologista aconselha que, ao voltar para casa, as pessoas façam uma higienização completa, principalmente nas regiões da pele que mais tiveram contato com a areia. Em caso de penetração degermes, um dermatologista deve ser consultado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário