Hospitais superlotados, caos,
pânico, medo, dor, mortes e luto. Este tem sido o cenário da nossa cidade nas
últimas semanas. Como pode um pequeno mosquito nos roubar o sono, nos acometer
de doenças tão horrendas e ceifar muitas vidas? Crianças, jovens, idosos,
pessoas de todas as classes sociais, da zona rural e da zona urbana, do centro
e da periferia, todos estamos sujeitos ao problema.
Mas, o problema não é só o
mosquito. Diria mais: diria que o problema somos nós. Principalmente nós! O
mosquito só se desenvolve nos locais que encontra condições ideais e
favoráveis. Isto incide, indubitavelmente, num aspecto extremamente relevante
no que tange a cidadania, a ética e a própria vida em comunidade. Mas, quem
disse que sabemos viver em comunidade? Só lembramos do coletivo quando algo em
particular nos atinge e vemos na coletividade uma maneira de culpabilizar,
responsabilizar ou até mesmo amenizar o que de ruim nos acontecera.
O que eu aprendo com o aedes?
Aprendo que o poder público foi pego de supetão em decorrência de tais
epidemias, não esboçando nenhuma reação imediata, o que denuncia desleixo,
despreparo, desorganização e falta de planejamento. Não obstante, aprendo
também que sempre procuramos transferir, ao invés de assumirmos a nossa parcela
de culpa. É sempre mais cômodo e confortável ao ser humano. Mas, na realidade,
em raríssimas exceções fazemos a nossa parte, o que, portanto, nos toma de
assalto qualquer legitimidade de protesto e, consequentemente, transfigura a
nossa revolta em um vômito discursivo hipócrita, vago, ilegítimo, mesquinho e
egoísta. “Dói, quando dói em mim”. É uma filosofia, um mantra, uma bandeira da
sociedade hodierna: capitalista, egocêntrica e, no maior alcance semântico que
esta palavra pode ter, individualista.
O descaso com os hospitais, a
falta de atendimento adequado, assim como, de estrutura e de pessoal (nos
sentidos quantitativo e qualitativo) trazem à tona naturalmente um sentimento
de revolta, furor e desengano a qualquer cidadão que paga seus impostos e
procura andar em conformidade com as leis. No entanto, a culpa não é
exclusivamente do poder público, que mal administraa Saúde Pública, que gere
mal os seus recursos ou que os desvirtua. A culpa também é nossa. Muito nossa.
Partindo, por exemplo, da nossa inércia, quando deveríamos apresentar uma
postura mais inquieta e fiscalizatória. Porém, jogamos esta conta nos ombros do
Ministério Público. É mais confortável.
Em suma, o cerne da nossa
discussão é a ideia de que se trata de um problema grave e que requer, deste
modo, um trato especial, muita atenção e seriedade no que diz respeito aquilo
que podemos fazer. Que façamos as denúncias necessárias. Que convoquemos a
imprensa e os jornais. Porém, deixemos também outros debates vazios de lado e
nos coloquemos em estado de alerta total. Que façamos cada um a nossa parte.
Deixemos de lado as pequenas coisas e cuidemos dos nossos quintais. É, acima de
tudo, uma questão de consciência, educação e cidadania.
É preciso sim, cobrar das
autoridades competentes ações que lhes são atribuídas pela Lei Maior. Uma vez
não fazendo isto, estaremos abrindo mão de um direito que nos é garantido.
Entretanto, comecemos a cobranças por nós mesmos, tendo uma atenção mais do que
especial sobre as nossas casas, quintais, propriedades, comunidade, etc.
É momento
de unirmos forças. Entidades que compõem o poder público, instituições
privadas, sociedade civil, ONG’s, associações e, principalmente, cada um de
nós, incluindo esta batalha na pauta dos nossos afazeres cotidianos. Só assim,
conseguiremos vencer esta guerra.
Luciano Damasceno.
Historiador – Professor da Rede
Privada e Rede Pública Estadual de Ensino – Estudante de Direito da UFRN.
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