Dois dos três fenômenos lunares que ocorrem hoje (31) poderão ser
observados esta noite no Brasil. A Super Lua, que dará mais brilho ao
único satélite natural da Terra, será também Lua Azul – nome dado à
segunda lua cheia de um mesmo mês. Quem estava do outro lado do planeta,
na região do Pacífico, pôde observar, enquanto ainda era dia no Brasil,
o terceiro fenômeno: um eclipse lunar.
O que torna a lua deste
31 de janeiro rara é o fato de os três fenômenos ocorrerem
simultaneamente. “A próxima coincidência [da Super Lua que é, ao mesmo
tempo, Lua Azul em meio a um eclipse] só vai acontecer em 2037. Depois,
só após 2100, ano limite da tabela que tenho aqui em mãos”, explicou à Agência Brasil o astrofísico da Sociedade Astronômica Brasileira Gustavo Rojas.
Lua
Azul é o nome dado à segunda lua cheia de um mesmo mês ou à quarta lua
cheia de uma mesma estação. No caso desta Lua Azul, ela carrega uma
outra coincidência, a de se enquadrar nessas duas situações.
Já a
Super Lua ocorre quando a lua cheia coincide com o período em que o
satélite natural está mais próximo da Terra. “A órbita da Lua é oval. Em
média ela está a 384 mil quilômetros da Terra. Quando mais distante,
está a cerca de 400 mil km; e quando está mais perto, está a cerca de
360 mil km”, explicou Rojas, que é também do Observatório Astronômico da
Universidade Federal de São Carlos.
“Esse termo [Super Lua] é
meio enganoso por fazer com que as pessoas achem que a Lua ficará
gigante. Na verdade, em termos de tamanho, ela fica apenas 10% maior do
que quando está na posição mais distante. O que fica mais perceptível é o
brilho, que fica 30% maior [na mesma base de comparação]. No entanto,
isso fica pouco perceptível quando a observação é feita das cidades,
onde há luz artificial”, disse o astrofísico, sugerindo que as pessoas
se afastem das cidades para uma melhor observação.
Segundo ele, a
simultaneidade da Lua Azul com a Super Lua representa uma coincidência
de calendários. “Muitos calendários têm a Lua como referência. É o caso
dos calendários judaico e muçulmano, por exemplo. A Lua tem um intervalo
de 29 dias. Nosso calendário é dividido em meses que, em geral, são de
30 dias. Não à toa as palavras moon e month (lua e mês, em inglês) têm a
mesma raiz. A lua influencia inclusive festas cristãs como a Páscoa,
que ocorre no primeiro domingo após a [primeira] lua cheia [do outono,
no Hemisfério Sul]”.
Rojas lembrou que a influência da lua nas
civilizações antigas é notória. “Essas civilizações [as antigas]
perceberam a ocorrência de ciclos regulares a partir dos movimentos
celestes. É o caso da rotação da Terra [ao redor de si] e do movimento
que ela faz ao redor do Sol. Foi a partir dessas observações que os
calendários foram montados. As civilizações antigas não tinham visões
avançadas do Universo, mas tinham entendimento bastante preciso da
regularidade dos corpos celestes”.
De acordo com o astrofísico, a
partir desses calendários, foi possível, ao ser humano, passar a fazer
planejamentos, o que mudou de forma definitiva diversos hábitos e
culturas. “Com o calendário, desenvolvemos, entre outras coisas, a
agricultura, que foi fundamental para que deixássemos de ser nômades”,
exemplificou.
Já o eclipse ajudou a ciência a explicar diversos
fenômenos que vão além do nosso planeta e do Sistema Solar. “O eclipse é
a projeção da sombra da Terra na Lua. Por meio da espectroscopia, ao
observarmos esse evento – que funciona como uma lente, ao jogar uma luz
diferente sobre a Lua – podemos obter várias pistas sobre a atmosfera do
nosso planeta”, explicou.
Dessa forma, acrescentou Rojas, é
possível, durante o eclipse, encontrar indícios de que há vida na Terra.
“E se aplicarmos esse mesmo conhecimento em outros planetas, quando
passam à frente de uma estrela, poderemos saber se há ou não material
orgânico em sua atmosfera”, completou.