Antes de chegar às prateleiras dos supermercados, os produtos
agrícolas passam por uma série de processos: transporte, seleção e
manejo. Tais processos, muitas vezes, são realizados por equipamentos
mecânicos que causam danos ao alimento e descarte dos frutos avaliados,
uma vez que as medições demandam a realização de perfuração, o que
estraga produto. Esses processos aceleram a deterioração das frutas. Ao
mesmo tempo, quando colhidos na maturidade ideal, os produtos se tornam
mais doces e resistentes a eventuais danos causados durante o
transporte. Pensando nisso, foi desenvolvida uma luva com sensores que
permitem analisar e medir atributos de frutas com o toque e classificar a
qualidade dos frutos durante a colheita, aumentando o aproveitamento e
reduzindo a necessidade de diversas classificações e manipulações ao
longo da cadeia de suprimento.
A descrição desse equipamento, denominado Luva Vestível para Análise e
Classificação de Produtos Agrícolas, remete à concessão da 19º
carta-patente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em
cotitularidade com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O
instrumento foi elaborado pelos professores Rummenigge Rudson Dantas e
Rafael Vidal Aroca, além dos estudantes Ciro Martins Pinto e Lucas
Cassiano Pereira Silva. “Quando a pessoa pega a fruta com a luva,
conseguimos fazer uma leitura, através de sensores de luz e de pressão
localizados na ponta dos dedos da luva, se a fruta está verde, madura ou
passada e, assim, se está pronta para colheita. Com a leitura do
sensor, um programa de computador faz a indicação. A luva é passível de
fazer essa identificação para diversas frutas, calibrando os sensores
para cada caso”, explicou Rummenigge Rudson Dantas, professor vinculado à
Escola de Ciência e Tecnologia.
Para Rafael Vidal Aroca, um dos inventores, o desperdício é um dos
itens a ser atacado. “O Brasil é o país do agronegócio, e, neste
sentido, existem muitas pesquisas acadêmicas para aumentar a qualidade
dos alimentos e reduzir o desperdício. Em especial, espera-se que a
tecnologia presente nesta luva permita tornar os processos de seleção e
classificação de frutas mais homogêneo, além de aumentar a qualidade e
duração das frutas, através da indicação do momento correto da colheita
de cada tipo de fruta”. O atual diretor da Agência de Inovação da UFSCar
explicou ainda que a equipe paulista já discutia o desenvolvimento
desta luva fazia algum tempo e que, na época do pedido em 2014, foram
incentivados por Adonai Calbo, pesquisador da Embrapa, a tentar
patentear a tecnologia. “Já havíamos desenvolvido um protótipo inicial e
testado sua funcionalidade, mas em parceria com o professor Rummenigge
Dantas e os estudantes Ciro Pinto e Lucas Cassiano construímos
protótipos funcionais, com custo acessível”, pontuou.
Por sua vez, Rummenigge Dantas acrescentou que o projeto da luva pode
ser ajustado até mesmo para as pessoas que estão dentro da agricultura
familiar. “No nosso raciocínio, a pessoa que está lá no campo realizando
a colheita, que é manual, quando pegasse no fruto, a luva indicaria se
pode ou não retirar o fruto da planta, substituindo o penetrômetro. A
economia, a depender do tamanho da plantação, é muito alta, também pela
questão da utilização do tempo”, colocou o docente da UFRN, atualmente
vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Informação e ao
bacharelado na Escola de Ciência e Tecnologia (ECT).
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