A ingestão de bebida alcoólica na adolescência pode prejudicar o
desenvolvimento cerebral. De acordo com um estudo recém-publicado no
periódico científico Addiction, adolescentes que bebem em
excesso tendem a ter menos massa cinzenta no cérebro, estrutura
responsável por funções como memoria, tomada de decisões e autocontrole.
No estudo, pesquisadores da Universidade da Finlândia Oriental, na
Finlândia, acompanharam 62 jovens durante dois anos. Nesse período, eles
responderam questionários que incluíam questões sobre o consumo de
bebida alcoólica.
Todos os voluntários haviam participado de um estudo finlandês sobre o
bem-estar do jovem e haviam relatado seu consumo alcoólico durante a
adolescência – aos 13 e aos 18 anos.
Os
resultados mostraram que 35 deles abusavam do álcool – bebiam pelo
menos quatro vezes por semana ou bebiam muito, com menor frequência – na
adolescência. Os demais foram considerados bebedores moderados.
Exames de escaneamento cerebral mostraram que os jovens que abusaram
do álcool tinham menores volumes de massa cinzenta, em comparação com
aqueles que bebiam moderadamente.
“O uso de substâncias está conectado com a exclusão social, problemas
de saúde mental e baixa escolaridade. Mudanças na estrutura do cérebro
pode ser um dos fatores que contribuem para os problemas sociais e
mentais entre os indivíduos que usam substâncias”, disse Noora
Heikkinen, líder do estudo.
De acordo com Samantha Brooks, professora da Universidade da Cidade
do Cabo, na África do Sul, e que não esteve envolvida no estudo, a seção
frontal do cérebro, que desempenha um importante papel na tomada de
decisões, continua se desenvolvendo até os 20 e poucos anos.
Essa região foi bastante afetada pela perda de massa cinzenta no
cérebro das pessoas que abusavam do álcool. Embora nenhum dos
participantes tenha demonstrado sintomas de depressão e as taxas de
problemas como ansiedade, desordens de personalidade e uso de drogas
fossem similares entre os dois grupos, os bebedores compulsivos tinham
mais tendência a fumar.
Samantha explica que, durante esse período, os adolescentes estão
mais aptos a terem problemas com o abuso de substâncias, já que estão em
uma “janela de vulnerabilidade”.
Felizmente, segundo Noora, parar a ingestão de álcool a tempo pode
aumentar o volume de massa cinzenta. “Entretanto, quando o uso for
continuado por um longo período, algumas mudanças estruturais se tornam
irreversíveis.”, afirmou.
Apesar dos resultados, como esse foi apenas um estudo observacional,
os pesquisadores não podem afirmar se é o excesso de bebida que danifica
o desenvolvimento cerebral ou se pessoas com menos massa cinzenta – por
fatores genéticos ou outras causas – têm maior probabilidade de abusar
do álcool.
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