terça-feira, julho 17, 2018

Cientistas descobrem que pão é pelo menos 4 mil anos mais antigo que agricultura.

No nordeste da Jordânia, cientistas descobriram restos de pão sírio feito por caçadores-coletores há 14,4 mil anos – a evidência mais antiga da existência do pão já registrada até hoje.

De acordo com os autores do estudo, publicado nesta segunda-feira, 16, na revista científica PNAS, a descoberta indica que a panificação já era feita pelo menos 4 mil anos antes do advento da agricultura. Foram analisadas 24 amostras de pão pré-histórico encontradas no sítio arqueológico de Shbayqa 1, no Deserto Negro, Jordânia.

Segundo os cientistas, o achado sugere que a produção de pão com base em cereais selvagens pode ter motivado os caçadores-coletores a cultivarem cereais, o que pode ter contribuído para a revolução agrícola do Neolítico.

“A presença de centenas de restos de comida carbonizada nas estruturas feitas para fogueiras de Shubayqa 1 é uma descoberta excepcional e nos deu uma chance de caracterizar práticas alimentares de 14 mil anos atrás”, disse a primeira autora do estudo, Amaia Arranz Otaegui, arqueobotânica da Universidade de Copenhague (Dinamarca).

De acordo com a cientista, foram analisadas 24 amostras de pães pré-históricos feitos com cevada, aveia e einkorn – uma forma selvagem do trigo. A análise mostra que os grãos foram moídos, peneirados e amassados antes de irem para o fogo.

“As amostras lembram muito o pão ázimo (sem fermento) identificado em vários sítios neolíticos e romanos na Europa e na Turquia. Assim, agora sabemos que produtos semelhantes ao pão já eram produzidos muito antes do desenvolvimento da agricultura O próximo passo é avaliar se a produção e consumo de pão influenciaram de alguma forma o advento do cultivo de plantas”, afirmou Amaia.

De acordo com o líder das escavações no sítio jordaniano, Tobias Richter, arqueólogo da Universidade de Copenhague, os caçadores-coletores do fim do período Paleolítico interessam particularmente os cientistas, porque eles viveram em um período de transição, quando as pessoas se tornaram mais sedentárias e sua dieta começou a mudar.

Há cerca de 80 anos os arqueólogos estudam a chamada cultura Natufiana, que existiu entre 12,5 mil e 9,5 mil anos atrás no Levante – região do Oriente Médio que inclui a Síria, a Jordânia, o Líbano e a Palestina. Os primeiros vestígios da cultura Natufiana – que incluem os primeiros indícios de agricultura do mundo – foram encontrados na década de 1930 na caverna de Shubayqa.

“Ferramentas de pedra e lâminas de sílex em forma de foice que foram encontradas nos sítios arqueológicos Natufianos, no Levante, fizeram com que os arqueólogos suspeitassem por muito tempo de que essas pessoas começaram a explorar plantas de uma forma diferente, talvez mais eficaz. Mas o pão ázimo encontrado em Shubayqa 1 é a mais antiga evidência da existência do pão já descoberta. Isso mostra que o pão foi inventado antes de termos o cultivo de plantas”, disse Richter.

Segundo Richter, as evidências confirmam algumas das hipóteses dos cientistas. “De fato, é possível que a produção precoce do pão com base em cereais selvagens – e o fato de que ela consumia bastante tempo – tenha sido uma das principais forças por trás da revolução agrícola que viria depois, quando os cereais passaram a ser cultivados para fornecer fontes de alimento mais convenientes”, afirmou.

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