domingo, abril 16, 2017

Deputados que fizeram duros discursos no impeachment aparecem nas delações da Odebrecht

O deputado federal Bruno Araújo (PSDB-PE) cerrou o punho e deu socos para o alto no ritmo do coro “eu sou brasileiro/com muito orgulho/com muito amor”, fazendo vibrar o grupo de deputados federais em seu entorno na sessão que votava a admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff. Era abril de 2016 e a Lava-Jato avançava sobre a cúpula do governo e do PT, levando o discurso anticorrupção para as ruas e ao plenário da Câmara: — Quanta honra o destino me reservou de poder, da minha voz, sair o grito de esperança de milhões de brasileiros. (...) Carrego comigo nossas histórias de luta pela liberdade e pela democracia. Por isso eu digo ao Brasil: sim para o futuro! — gritou Araújo, erguido pelos colegas como um troféu, sacramentando o avanço do processo contra Dilma.

Araújo virou ministro das Cidades no novo governo e, nesta semana, descobriu-se que nas planilhas de registro dos pagamentos ilegais da Odebrecht tinha outra identidade: “Jujuba”, beneficiário de contribuições não declaradas à Justiça Eleitoral, no total de R$ 600 mil.

O caso não é exceção: sete em cada dez senadores e deputados federais que viraram alvo de inquérito ou são citados na planilha de caixa 2 entregue à Lava-Jato pelo diretor de Infraestrutura da Odebrecht, Benedicto Júnior, votaram pelo “sim” no impeachment. Sempre em discursos com duras críticas à corrupção, promessas de novos rumos e “esperança de um futuro melhor”.

As palavras entre aspas são da fala do deputado federal Milton Monti (PR-SP), acusado de viabilizar pagamentos ao então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR-AM), e atuar por um “ajuste de mercado” entre empresas, que resultou em propina para agentes públicos do Dnit. Monti teria cobrado, em nome do PR, propina de 3% dos contratos da Ferrovia Norte-Sul.

— Estamos legitimados pelo povo brasileiro para dar um basta à roubalheira! — bradou Onyx Lorenzoni (DEM-RS) na sessão do impeachment, citando trecho do hino do Rio Grande de Sul que menciona o valor de “"nossas façanhas” como “modelo a toda terra”.

O ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar relatou ter pago a Lorenzoni, em caixa 2, R$ 175 mil na eleição de 2006. Tudo para que a empresa tivesse “um parceiro futuro nas suas atividades”, segundo o relato do ex-diretor ao MPF.

Investigado em inquérito que apura crimes de corrupção e lavagem de dinheiro por suspeita de ter recebido R$ 580 mil para defender posições favoráveis à Odebrecht em assuntos do setor elétrico, o deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA) foi um dos mais agressivos contra a corrupção no plenário da Câmara:

— Estou votando sim pelos crimes que Dilma cometeu. E não é só passar cheque sem fundo em nome do dinheiro do povo, ela roubou na refinaria, na Petrobras e em Belo Monte. Ela não é honrada!

Nenhum comentário:

Postar um comentário