O Facebook entrou nessa terça-feira, 20, na mira de governos e
agências regulatórias nos Estados Unidos e na Europa, três dias depois
das revelações de que a empresa de inteligência Cambridge Analytica
obteve, de forma ilícita, dados pessoais de 50 milhões de usuários da
rede social. Isso permitiu que a empresa criasse ações de marketing
digital para influenciar as eleições americanas que levaram Donald Trump
à presidência e o referendo pré-Brexit, que decidiu pela separação do
Reino Unido da União Europeia.
Nessa terça-feira, 20, o Parlamento britânico convocou o presidente
do Facebook, Mark Zuckerberg, a prestar esclarecimentos. Do outro lado
do Atlântico, a agência reguladora de comércio americana (FTC, na sigla
em inglês), começou uma investigação sobre o assunto.
A repercussão também atingiu Wall Street: nos últimos dois dias, o
Facebook chegou a perder US$ 60 bilhões em valor de mercado – encerrou o
pregão de ontem valendo US$ 488,5 bilhões, ou US$ 49 bilhões a menos
que no fechamento da bolsa Nasdaq na sexta-feira, 16. Zuckerberg,
sozinho, perdeu US$ 7,3 bilhões de sua fortuna pessoal desde que as
reportagens sobre o caso começaram a sair.
O principal temor no mercado é que o escândalo, revelado no último
final de semana, degringole na regulamentação das atividades da empresa,
baseadas na coleta, tratamento e uso de dados pessoais de seus 2,13
bilhões de usuários. Além disso, a empresa pode sofrer com multas
bilionárias e sanções.
“É hora de ouvir um executivo sênior do Facebook com autoridade
suficiente para dar uma explicação correta sobre essa falha
catastrófica”, disse Damian Collins, presidente do comitê responsável
por regular a área digital e de mídia no Parlamento britânico, na
convocação enviada a Zuckerberg. Para o comissário Terrell McSweeney, da
FTC americana, o episódio mostra que “os consumidores precisam de
proteções mais fortes na era digital.”
Por enquanto, as reações da empresa têm ajudado a pôr mais lenha na
fogueira. Na sexta-feira, 16, já ciente da publicação das matérias, a
empresa suspendeu a Cambridge Analytica da rede social e ameaçou os
jornais com processos antes da publicação das reportagens.
Além disso, Zuckerberg e sua número 2, a diretora de operações Sheryl
Sandberg, não se pronunciaram publicamente sobre o assunto. “Conduzimos
uma análise robusta para identificar potenciais violações”, disse o
Facebook, em nota divulgada na segunda-feira, 26.
Iniciativa.
Para os especialistas ouvidos pelo Estado, o Facebook ainda pode
virar o jogo. “O Facebook está com a bola na mão para propor mudanças”,
diz Carlos Affonso de Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e
Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio). “Com grandes poderes, vêm grandes
responsabilidades: uma empresa desse tamanho precisa ter postura ativa
com os dados dos usuários.”
Para o português Pedro Domingos, professor da Universidade de
Washington e autor do livro O algoritmo mestre, o episódio reforça a má
reputação da rede social no quesito privacidade. “É a maior crise de
confiança do Facebook até aqui”, diz o pesquisador. Para ele, no
entanto, o episódio não deve levar ao êxodo de usuários. “O público em
geral não é muito consciente de sua privacidade.
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