A pouca chuva que caiu semana passada
não foi suficiente para mudar o cenário no interior do Rio Grande do
Norte. Da mesma forma, não alterou a expectativa do sertanejo quanto ao
inverno deste ano. Árvores mortas, rebanho definhando, reservatórios
secos, cemitérios de animais e produção agrícola zerada. Ao passo que a
estiagem deixa marcas de devastação no território potiguar, o homem do
campo implora pela ajuda que não chega. As ações emergenciais são
tímidas e a previsão metereológica apontando um ano de chuvas
irregulares assusta. Em Caicó, o advogado e pecuarista Raimundo Medeiros
Filho, vai cobrar na Justiça indeização de R$ 1 milhão, por entender
que o Estado foi responsável pela morte de 500 cabeças de gado em sua
propriedade.
Para cobrar ações mais enérgicas e com
impacto mais produtivo, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado
(Faern) vai entregar, nos próximos dias, um diagnóstico da atual
situação ao Governo do Estado e Assembleia Legislativa. O documento será
o extrato de uma visita feita, no último fim de semana, a cinco
municípios localizados em três regiões do RN. Técnicos da Faern foram à
propriedades em Lajes, Santana do Matos, Apodi, Pau dos Ferros e Caicó. A
TRIBUNA DO NORTE acompanhou a visita da “Expedição Retratos da Seca”.
“O objetivo é mostrar o que o homem do campo está enfrentando e cobrar
mais ações. Até agora, tudo está sendo feito de forma tímida enquanto
vivemos um apagão na pecuária e agricultura do Estado”, frisou o
presidente do órgão, José Vieira.
As perdas geram números preocupantes. A
estiagem dura 19 meses e 30% do rebanho já foi dizimado. Na lavoura, a
secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Pesca (Sape) estima uma
queda de 70% na produção. São quase 500 mil pessoas afetadas
diretamente. No campo, os números são traduzidos no sofrimento dos
produtores. Nesses tempos de estiagem, o verbo “perder” faz parte da
rotina dos sertanejos. Conta-se o que já foi levado pela seca, o que
está morrendo e o que ainda pode ser extinto.
Em Apodi, a 328 quilômetros de Natal,
Francisco Sobrinho de Souza, 57 anos, produzia mel, castanha de caju,
leite e laticínios. Há três anos, chegou a colher 18 toneladas de
castanha. Este ano, foram apenas 150kg colhidos. Os cajueiros estão
secos. Não há folhagem. A produção de mel foi a zero. Sem flores, as
abelhas vão embora. As colméias onde o mel era produzido estão jogadas
em um canto. No curral da fazenda, mais perdas. “Perdi mais de 50
cabeças de gado e pelo jeito vai morrer mais bicho”, informou.
De acordo com o produtor, o Programa do
Volumoso, do Governo do Estado, não chegou à sua propriedade. Já a
entrega de milho, feito pela Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab), não funciona a contento. “É muito limitado. Recebi 45kg em
janeiro e agora, em fevereiro, não recebi nada”, disse em tom de
desabafo.
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