Fevereiro de 2017. Era dia e pessoas passavam enquanto pelo menos
três homens espancavam Dandara dos Santos, 42 anos. A violência vivida
ao longo de toda uma vida chegou, em uma rua do bairro Bom Jardim, na
periferia de Fortaleza, ao máximo. As cenas foram registradas em vídeo
pelos próprios algozes. As imagens, que ganharam as redes sociais um mês
depois do fato, foram interrompidas antes do ato final da sessão de
tortura: os tiros disparados contra Dandara.
Dandara era
travesti. No vídeo, o motivo do assassinato é gritado pelos homens, que
zombam de sua condição e demonstram intolerância. A causa foi
posteriormente confirmada pela polícia cearense.
O caso ilustra
tantos outros que ocorrem no Brasil. De acordo com a Associação Nacional
de Travestis e Transexuais (Antra), apenas em 2017 foram contabilizados
179 assassinatos de travestis ou transexuais. Isso significa que, a
cada 48 horas, uma pessoa trans é assassinada no Brasil. Em 94% dos
casos, os assassinatos foram contra pessoas do gênero feminino.
Os
dados são detalhados no Mapa dos Assassinatos de Travestis e
Transexuais no Brasil em 2017, lançado nesta quinta-feira (25), pela
Antra, em Brasília.
A secretária de Articulação Política da Antra
e autora do estudo, Bruna Benevides, disse que a violência está
atrelada não ao exercício da sexualidade, mas à identidade de gênero. “A
gente diz que o machismo é a sementre do ódio e do preconceito. É como
se os corpos dessas pessoas que desafiam as normas tivessem que ser
expurgados da sociedade. E é isso que a sociedade tem feito”, disse.
O
relatório destaca que o número de assassinatos em 2017 é o maior
registrado nos últimos 10 anos. Apenas entre 2016 e 2017 houve um
aumento de 15% de casos notificados. A organização aponta que a situação
mantém o Brasil no posto de país onde mais são assassinados travestis e
transexuais no mundo. Em segundo lugar está o México, com 56 mortes. A
comparação é feita tendo como base os dados da ONG Internacional
Transgender Europe (TGEU).
No Brasil, de acordo com o mapa, o
Nordeste é a região que concentra o maior número de mortes, 69. Depois
estão o Sudeste, com 57; o Norte e Sul, com 19 cada; e o Centro-Oeste,
com 15. Em números absolutos, Minas Gerais é o estado que mais mata a
população trans. Em 2017, 20 pessoas trans foram mortas em decorrência
do preconceito contra sua identidade de gênero. Na Bahia, foram 17. Em
São Paulo, 16, mesmo número do Ceará. No Rio de Janeiro, 14, como em
Pernambuco. Alagoas, Espírito Santo e Tocantins registraram sete mortes
cada um. Mato Grosso, seis. Cinco pessoas trans foram assassinadas no
Amazonas, Goiás, Rio Grande do Sul e também em Santa Catarina. No
Tocantins, 3. Já o Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso do Sul e
Sergipe somam duas mortes cada. Uma morte ocorreu no Acre, Amapá, Piauí,
Rio Grande do Norte e Roraima.
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