quarta-feira, abril 30, 2014

Por que brasileiros dificilmente chegam aos 100 anos?

Dona Canô – Mãe de oito filhos, entre eles os músicos Caetano Veloso e Maria Bethânia, ela morreu aos 105 anos, no dia de Natal de 2012, em casa 

Atingir os 100 anos ou mais é para poucos, mas no Brasil isso pode ser considerada uma tarefa hercúlea. Se por um lado o país se tornou mais longevo – a expectativa de vida passou dos parcos 59,6 anos, na década de 1970, para 74,8 anos, em 2010 -, por outro, houve o decréscimo de 1,4% na população de centenários na última década.

Pesquisadores estão tentando entender por que é tão difícil se tornar um centenário no País. O geriatra Ângelo Bós, do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUC-RS, acredita que o motivo da dificuldade do brasileiro superar a barreira dos 100 anos esteja na falta de atendimento especializado. “Velhice não é doença, logo ninguém deveria morrer de velho. Precisamos levar em consideração que existe uma dificuldade de dar assistência às pessoas com mais de 90”, afirma.

Bós investigou a situação. Em 2000, havia 261 mil pessoas com mais de 90 anos no Brasil. Dez anos depois, apenas 24.236 estavam vivas, apenas 9,3% sobreviveram. “Todo mundo vai morrer, mas os dados mostram que 14,2% destes centenariáveis morreram sem assistência médica e 11,12%, de causas desconhecidas. Eu não posso dizer que eles não teriam morrido se tivessem assistência, mas poderiam ter sofrido menos”, disse. Neste mesmo período, entre 2000 e 2010, houve um aumento de 81% na população de 90 a 94 anos e de 75% entre os que têm entre 95 e 99 anos.

Para ampliar o número dos que rompem a barreira de um século de existência, é preciso avançar na capacitação de profissionais e nos investimentos dos governos para atender os longevos em suas especificidades. “Com 70 anos, se a pessoa não se sente bem ela vai ao posto de saúde. Com 80, ela vai depender do auxílio de um parente. Aos 90, além de precisar de transporte, ela já tem filhos idosos. Aos cem, quem vai cuidar dessa pessoa?”, diz Bós.

A falta de centenários pode ser ainda um reflexo da saúde dos idosos brasileiros. Um estudo realizado em Porto Alegre mostrou que nonagenários ingerem apenas 60% da quantidade de proteína que deveriam. Em São Paulo, uma pesquisa com pessoas com 60 anos ou mais mostrou que a maioria apresentava doenças como hipertensão arterial, obesidade, câncer, doenças cardiovasculares e artrite.

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