quinta-feira, agosto 01, 2013

Chulé, shoeless, gordura de porco.

Uma imaginosa tese que circula por aí, repetida até por certos nomes do ramo, sustenta que a informal e popularíssima palavra chulé “cheiro fétido característico do suor dos pés humanos” (Houaiss) seria derivada do adjetivo inglês shoeless, que significa “descalço”. Não há um único etimologista respeitável que acredite nisso.

São várias as razões para o descrédito que cerca a tese shoeless. Basta mencionar duas delas: a palavra é dicionarizada desde 1881 e provavelmente já circulava bem antes disso, quando era mínima a influência do inglês sobre nossa língua; e a correspondência de sentido entre os dois termos é tênue, oblíqua – como se sabe, em pé descalço e arejado não se forma chulé.

O problema é que a origem de chulé é obscura. Como os estudiosos não chegam a um acordo sobre ela, os defensores de shoeless encontram terreno fértil para espalhar sua lenda. O poeta Glauco Mattoso chegou a compor uma quadrinha brincalhona sobre isso:

O brasileiro Antenor Nascentes e o português José Pedro Machado viram a matriz de chulé numa palavra do cigano ou romani: chulló ou chullí, “gordura de porco rançosa”. Silveira Bueno, também brasileiro, discordou: “A nosso ver, chulé é do mesmo grupo de ‘chulo’, ‘chula’, alterado na gíria do povo, sob a influência de ‘pé’, cuja terminação acentuada se fez sentir em chulé”.

Talvez nunca se chegue a um acordo. De certo, sabe-se apenas que shoeless não encontra bons padrinhos entre os filólogos. (Veja)

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