Parecia carnaval em Recife (PE), mas era dezembro, e não fevereiro, e os blocos não tomaram conta das ruas. Ao invés de folia, o motivo da festa era a despedida oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de seu Estado de origem.
Uma multidão lotou o Marco Zero, no bairro do Recife Antigo, na noite desta terça-feira (28), para prestigiar a festa organizada pelo PSB – do governador de Pernambuco, Eduardo Campos – para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se emocionou e chorou por pelo menos três vezes no palco. Vários artistas pernambucanos passaram pelo palco do local, e a cada apresentação o público entoava aquele que é um dos mais conhecidos jingles da política nacional: “olê, olê, olê, olá. Lula, Lula”.
Eram pouco mais das 19h30 quando Lula subiu ao palco. O poeta popular Antônio Marinho foi o primeiro a arrancar lágrimas do presidente, ao recitar poema que falava sobre o Nordeste, o Prouni e a rodovia transnordestina. Com versos sempre encerrados com a frase “Pernambuco agradece ao presidente mais amado da terra brasileira”, Lula não resistiu à homenagem e chorou copiosamente.
Antes de discursar, Lula recebeu a maior comenda do governo de Pernambuco, a ordem do mérito dos Guararapes, repassada pelo governador Eduardo Campos, que falou “em nome de todos os pernambucanos e pernambucanas”. “Coube a mim dizer o que Pernambuco sente, o que é um tremendo desafio. Nós não estamos aqui para dizer adeus, mas sim para dizer obrigado e até logo”, disse, também levando o presidente ao choro.
Em seu discurso, Lula fez um histórico de sua caminhada política, mas não deixou de pedir apoio à futura presidente e anunciar um breve retorno. “A palavra de ordem é apoiar a companheira Dilma e ela será companheira de Pernambuco. Ela, junto com Eduardo [Campos], vai fazer muito mais. Eu saio da presidência, mas não pensem que vão se livrar de mim, porque vou estar nas ruas desse país para ajudar a resolver os problemas do Brasil”, afirmou.
Ao lembrar suas derrotas, Lula afirmou que a desconfiança foi a responsável pelos insucessos em 1989, 1994 e 1998. “Eu perdi porque uma parte do povo pobre não confiava em mim. Eu lembro em 1989, aqui em Casa Amarela [bairro do Recife], uma mulher veio de uma casinha velha e me disse: 'eu não voto em você porque você vai tomar tudo que tenho'. E eu dizia, vou tomar o quê dessa mulher? E cheguei em casa e disse a Marisa que fiquei assustado, porque essa pessoa que eu queria ajudar, tinha medo de mim. E Marisa me disse: tente novamente que isso um dia vai acontecer, e aconteceu em 2002”, disse Lula, sem conter as lágrimas pela terceira vez na noite.
O presidente seguiu contando sua história e disse que não acreditou que estava no poder. “Em 2002 eu ganhei e perguntei a Marisa, será que eu tenho condições de governo? Falava, será que é verdade que a gente está aqui?. Eu sabia que se falhasse, (a falha) não seria minha, mas da classe trabalhadora, dos pobres, que iriam provar que não teriam competência para governar”, assegurou.
O presidente ainda agradeceu a Deus e disse que só ele explica sua chegada à presidência. “Eu sou agradecido a Deus. Se não fosse o dedo de Deus, não seria normal um retirante de Caetés, que fugiu da fome, se transformar em presidente. Quem não acredita em Deus, acredite”, assegurou.
Lula se disse ainda feliz por ter dado início à obra da transposição do rio São Francisco, que está em andamento. “Eu fui o único presidente que não a prometi. Mas em 2012, a companheira Dilma Rousseff vai ter a honra de inaugurar a obra que vai irrigar a área de semiárido mais habitada no mundo. Graças a Deus ela vai sair, porque assim o povo quis”, prometeu.