Após um homem negro ser espancado até a morte em uma loja da rede
Carrefour Brasil em Porto Alegre na noite de quinta-feira, o presidente
Jair Bolsonaro disse que é "daltônico", que os problemas do Brasil vão
além de questões raciais e afirmou que a violência atinge a todos.
Em
uma publicação no Twitter na noite de sexta-feira, o presidente também
criticou aqueles que, na visão dele, buscam destruir o que chamou de
"única família brasileira" em que, mais uma vez na avaliação do
presidente, "brancos, negros, pardos e índios compõem o espírito de um
povo rico e maravilhoso".
"Contudo, há quem queira destruí-la, e
colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão
entre classes, sempre mascarados de 'luta por igualdade' ou 'justiça
social', tudo em busca de poder", acusou Bolsonaro sem citar nomes e sem
mencionar diretamente o assassinato por espancamento de João Alberto
Silveira Freitas, de 40 anos, em uma loja da rede Carrefour Brasil, em
Porto Alegre.
Freitas foi espancado até a morte por um
segurança da loja e por um policial militar temporário que estava fora
de serviço e um vídeo do espancamento viralizou nas redes sociais na
sexta-feira, dia em que várias cidades do Brasil comemoraram o Dia da
Consciência Negra. O crime, o mais recente episódio de violência uma
loja do Carrefour no Brasil, provocou protestos e ataques a unidades da
rede varejista em várias cidades.
Em sua série de tuítes, Bolsonaro minimizou a questão racial no Brasil.
"Estamos
longe de ser perfeitos. Temos, sim, os nossos problemas, problemas
esses muito mais complexos e que vão além de questões raciais. O grande
mal do país continua sendo a corrupção moral, política e econômica. Os
que negam este fato ajudam a perpetuá-lo", afirmou.
"Não
adianta dividir o sofrimento do povo brasileiro em grupos. Problemas
como o da violência são vivenciados por todos, de todas as formas, seja
um pai ou uma mãe que perde o filho, seja um caso de violência
doméstica, seja um morador de uma área dominada pelo crime organizado."
Na
sexta, o vice-presidente Hamilton Mourão, indagado sobre o assassinato
em Porto Alegre, disse não haver racismo no Brasil e disse que o crime
foi resultado de uma segurança despreparada.
Apesar das falas
de Bolsonaro e Mourão minimizarem a questão racial no Brasil, dados
divulgados em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), ligado ao governo federal, apontam que pessoas negras têm quase
três vezes mais chances de serem assassinadas do que as brancas.
A
data do Dia da Consciência Negra faz alusão à morte de Zumbi, líder do
Quilombo dos Palmares. Os quilombos eram os locais para onde iam os
negros que escapavam da escravidão, regime que durou 300 anos no Brasil
--desde os tempos em que era colônia de Portugal, até depois da
Independência, sendo abolida em 1888, há menos de 200 anos, pouco mais
de um ano antes da Proclamação da República. (Por Eduardo Simões)