Yamandú Orsi confirmou o leve favoritismo que apresentava nas
pesquisas e foi eleito presidente do Uruguai. A histórica coalizão de
esquerda e centro-esquerda Frente Ampla voltará ao poder no país da
América do Sul após cinco anos de governo da centro-direita.
Com mais de 99% dos votos apurados, a Corte Eleitoral mostrava Orsi
com 49,8% dos votos. Já o governista Álvaro Delgado (Partido Nacional)
tinha 45,8%. A participação eleitoral, em geral alta, foi de 89,4% dos
2,7 milhões de registrados para votar.
Ainda antes do anúncio da Corte, o presidente Luis Lacalle Pou, da
centro-direita, reconheceu a vitória de Orsi. No X, disse que ligou para
o frente-amplista para começar a transição, chamou-o de presidente
eleito e o parabenizou. O candidato governista, Álvaro Delgado (Partido
Nacional), também reconheceu derrota.
Segundos após a primeira boca de urna ser divulgada, os arredores do
hotel que reunia a campanha da Frente em Montevidéu entraram em êxtase.
Às margens da “rambla” da capital, apoiadores hasteavam bandeiras do
Uruguai e da coalizão fundada em 1971 e cantavam.
Orsi e sua vice, Carolina Cosse, discursaram para a multidão e, em
comum, prometeram governar para todos, não apenas para os que os
apoiaram neste domingo. “Ganhou, outra vez, o país da liberdade e da
igualdade”, disse o agora presidente eleito do Uruguai.
A apoiadores frustrados Álvaro Delgado, braço direito de Lacalle Pou,
disse que “é preciso respeitar a decisão soberana”. “Hoje Yamandú tem a
possibilidade de buscar acordos nacionais.” Delgado havia proposto na
campanha que, se eleito, eventualmente poderia chamar a esquerda a
compor o governo com a sua Coalizão Republicana.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi um dos primeiros
líderes a se manifestar. A Frente é historicamente próxima ao Partido
dos Trabalhadores. “Essa é uma vitória de toda a América Latina e do
Caribe”, escreveu, lembrando que agora os países estarão mais alinhados
no âmbito do Mercosul.
O pleito foi acirrado. A última rodada de pesquisas de intenção de
voto apontava em uníssono um empate técnico, com Orsi numericamente à
frente. Delgado dizia se fiar a uma “maioria silenciosa”, que podia não
dizer, mas votaria nele. Havia mais de 5% de indecisos.
Yamandú Orsi herdará um país dividido, mesmo que nesta parte da
América do Sul a polarização ainda não seja um fator de ruptura social.
Seu governo terá maioria estreita no Senado, mas não na Câmara, onde
nenhuma força obteve a maior parte das vagas.
Também chegará ao poder após uma campanha apática, de ambos os lados,
que não despertou grandes comoções de nenhuma parte, como se qualquer
eventual mudança não fosse ser significativa. O próprio Orsi chegou a
dizer que nada “seria radical”.
Com 57 anos, aquele que é tido como pupilo de José “Pepe” Mujica foi
governador do departamento de Canelones e professor de história. Foi o
chefe da campanha de Daniel Martínez, o candidato que em 2019 disputou a
Presidência pela Frente, mas perdeu.
Orsi assumirá em março que vem no lugar de Lacalle Pou, da
centro-direita, um presidente em geral bem avaliado. Terá de lidar com
desafios para os quais a centro-direita buscou lhe imprimir a pecha de
incapaz: a estabilidade econômica e o combate ao narcotráfico.