É mulher e já teve um orgasmo? Tem certeza? Como as mulheres sabem se
estão tendo um orgasmo? Embora essas perguntas possam parecer óbvias,
não são. Tanto que a neurocientista Nicole Prause está desafiando os
tabus da pesquisa sexual para desvendar essa e outras questões sobre o
orgasmo feminino.
Segundo informações do jornal britânico The Guardian, no
incipiente campo da pesquisa do orgasmo, enquanto entre os homens há um
claro feedback fisiológico na forma de ejaculação, a maior parte dos
dados femininos baseia-se em auto-relatos. os quais, por sua vez, são
muitas vezes discrepantes dos sinais físicos apresentados.
Afinal, como uma mulher tem certeza que chegou ao clímax? Já parou
para pensar que a sensação associada ao clímax seja apenas um dos
primeiros sinais de excitação?
Diante
dessas dúvidas e após seus projetos de pesquisas sobre o assunto serem
recusados em diversas instituições, Nicole decidiu estudar os mecanismos
do orgasmo em seu próprio laboratório. Ela espera que uma melhor
compreensão do que acontece no corpo e no cérebro de uma pessoa durante a
excitação e o orgasmo ajudem no desenvolvimento de dispositivos que
consigam aumentar o desejo sexual sem a necessidade de medicamentos.
No experimento, os voluntários, tanto homens quanto
mulheres, praticavam sexo enquanto usavam dispositivos que detectam a
atividade cerebral e as contrações e reações do corpo tipicamente
associadas ao orgasmo como eletrodos de eletroencefalograma. Isso
permite uma imagem mais precisa da excitação e do orgasmo de uma mulher.
No entanto, após esses experimentos, Nicole notou que “muitas das
mulheres que relataram ter um orgasmo não estavam tendo nenhum dos
sinais físicos – as contrações – de um orgasmo.”
Não está claro por que isso acontece, mas é fato que sabemos pouco
sobre orgasmos e sexualidade. “Nós não pensamos que elas estão fingindo.
Eu acredito que algumas mulheres não sabem o que é um orgasmo. Há
muitos picos de prazer que acontecem durante a relação sexual. Se você
não nunca teve contrações você pode não saber que há algo diferente.”,
afirma.
Orgasmo e saúde mental
Nicole acredita que o orgasmo possa trazer benefícios para a saúde
mental. Caso isso se confirme, essa pode ser uma nova “linha de
tratamento” contra depressão. Mas, toda vez que ela tentava incluir esse
tópico em seu estudo sobre novas intervenções em depressão, recebia um
não.
Foi então que ela decidiu se unir à Liberos, uma empresa americana de
biotecnologia sexual. Na época, a organização estava trabalhando em um
estudo sobre os benefícios e a eficácia da “meditação orgásmica”.
Parte do movimento do “sexo lento” (tradução livre da expressão slow
sex, em inglês), a prática envolve uma mulher ter seu clitóris
estimulado por um parceiro – muitas vezes um estranho – por 15 minutos.
“Este estado de orgasmo é diferente. É sem objetivo, intuitivo e
dinâmico. Ele flui por todo o lugar sem direção definida. Pode incluir
clímax, ou não. Em Orgasmo 2.0, aprendemos a ouvir o que o nosso corpo
quer, em vez do que ‘deveríamos’ querer.”, afirma o site da companhia
americana One Taste, especializada na prática e que coparticipou da
pesquisa com a Liberos.
“As pessoas que praticam [a meditação orgásmica] alegam que ela ajuda
a combater o stress e melhora sua capacidade de lidar com situações
emocionais, embora, como cientista, pareça bastante explícito
sexualmente para mim”, disse Nicole.
A pesquisadora está analisando praticantes de meditação orgásmica em
seu laboratório. Antes e depois de medir as mudanças corporais durante a
aplicação do método, os pesquisadores fazem perguntas aos participantes
para determinar seu estado físicos e mental. O objetivo do estudo é
determinar se atingir um nível de excitação requer esforço ou uma
liberação no controle. Em seguida, ela quer observar como a meditação
orgásmica afeta o desempenho dos participantes em tarefas cognitivas,
como ela muda a reatividade a imagens emocionais e como ela se compara
com a meditação regular.