O homem que um dia disse que seria “absolvido” pela história
morreu 22h29 de sexta-feira (horário de Havana, 1h29 de sábado em Brasília), em
Havana, como uma das figuras mais emblemáticas do último século. Responsável
pela morte de milhares de pessoas em julgamentos sumários, pela fuga de milhões
para o exterior e pela penúria dos que permaneceram no país, Fidel Castro saiu
da linha de frente da política cubana ao transferir a presidência para o irmão,
Raúl, em 2006. Mas permaneceu assombrando o povo e preservando sua tenebrosa
herança.
A saída de Fidel não significou uma abertura do país para a
economia de mercado. Pelo contrário, a ilha seguiu emperrada, e melhorar de vida
continuou a ser um ato tão subversivo quanto dar uma opinião sobre a política
nacional. Se internamente as dificuldades não dão trégua, um sopro de esperança
veio do inimigo externo, os Estados Unidos, que decidiu reatar relações
diplomáticas com a ilha no apagar das luzes de 2014. Raúl, no entanto, fez
questão de dizer que a aproximação não significará ‘tirar Cuba do rumo’,
provando que Obama pode tentar a sua parte, mas alterações significativas
dependem da saída de cena dos ditadores.
Cultuado por partidos de esquerda latino-americanos, Fidel
passava a maior parte de seu tempo livre em uma ilha paradisíaca ao sul de Cuba,
onde levava um estilo de vida nababesco, em contraste com a miséria da
população. Morreu em Havana, aos 90 anos. Como ocorre em todos os regimes
ditatoriais, detalhes sobre a vida pessoal e principalmente a saúde do chefe de
Estado sempre foram mantidos em sigilo. Fotos esporádicas invariavelmente o
mostravam decrépito, vestindo um agasalho Adidas. Em fevereiro de 2014, a
agência de notícias Associated Press eliminou de seus arquivos imagens alteradas
digitalmente para esconder um aparelho auditivo. No mês anterior, o ditador
havia comparecido à inauguração de um centro cultural em Havana. O registro de
sua passagem pelo local mostraram o gerontocrata caminhando com ajuda, curvado e
com uma aparência fragilizada.
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