O Congresso
aprovou nesta sexta-feira, 16, projeto de resolução que altera o
funcionamento do orçamento secreto, esquema de compra de apoio político
revelado pelo Estadão. Na Câmara, a proposta recebeu 328 votos a favor e
66 contra. No Senado, o placar ficou em 44 a 20.
O texto
define que a distribuição das indicações irá acontecer proporcionalmente
de acordo com o tamanho das bancadas dos partidos. Além disso, metade
das verbas deverão ser usadas para saúde, educação e assistência social e
os nomes dos parlamentares que indicarem as emendas precisam ser
tornados públicos.
No entanto,
ainda há margem para o uso do orçamento federal como moeda de troca
política. O texto não estabelece, por exemplo, regras claras sobre como
os recursos serão divididos entre os parlamentares – caberá ao líder de
cada legenda fazer a divisão.
Os
presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), ainda terão, cada um, controle de 7,5% dos recursos, o que
representa R$ 1,45 bilhões para cada um de acordo com os valores que
serão praticados no ano que vem. O Orçamento da União tem R$ 19,4
bilhões para as emendas de relator em 2023.
O projeto
foi articulado por Lira e Pacheco para impedir que o Supremo Tribunal
Federal (STF) declarasse inconstitucional a prática do orçamento
secreto. Como revelou o Estadão em uma série de reportagens, o orçamento
secreto virou moeda de troca para o presidente Jair Bolsonaro conseguir
maioria no Congresso.
O esquema
do orçamento secreto de distribuição de verbas sem transparência para
garantir apoio político ao governo de Jair Bolsonaro (PL) e garantir a
eleição de Lira e Pacheco para os comandos da Casas Legislativas foram
revelado em maio pelo Estadão.
A prática
se tornou possível após a criação das emendas secretas pelo Congresso
Nacional, no final de 2019. No papel, o controle das indicações das
emendas ficam sob o controle do relator do orçamento, cargo que é
exercido em um sistema de revezamento entre deputados e senadores e é
trocado todo ano. Na prática, porém, a indicações feitas pelo relator
são administradas pela cúpula do Congresso, ou seja, Lira, Pacheco e
seus aliados mais próximos.
Ainda
conforme a resolução aprovada, as indicações devem ser “oriundas
exclusivamente de indicações cadastradas por parlamentares” e podem ser
“fundamentadas em demandas apresentadas por agentes públicos ou por
representantes da sociedade civil”.
Pela forma
como é hoje, o orçamento secreto permite que as emendas sejam atribuídas
a “usuários externos” – prefeituras, governos estaduais, igrejas e
instituições privadas, por exemplo. Nestes casos, o cidadão continua sem
saber qual parlamentar “patrocinou” o pedido de recursos, ou seja,
levou a demanda a ser acatada pelo relator.