Mudar as atividades cotidianas para permanecer on-line é um dos sinais do vício (Thinkstock)
Calcula-se que cerca de 10% dos usuários
da internet sejam viciados na rede. Entre aqueles que têm smartphones, o
número é estimado em 20%. “Qualquer pessoa, de qualquer idade, que
tenha fácil acesso à internet e esteja passando por algum problema, como
depressão ou stress, está no grupo de risco”, diz o psicólogo Cristiano
Nabuco, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Instituto
de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
O vício em internet não é considerado uma doença pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM,
na sigla em inglês), documento elaborado pela Associação Americana de
Psiquiatria desde 1952 e atualizado pela última vez em 2013. “Mas essa
dependência pode ser enquadrada na categoria de compulsões do DSM, pois a
pessoa sofre um alto grau de ansiedade quando fica longe da rede”, diz o
psiquiatra Daniel Costa, do Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro.
Quantidade de horas no computador, no
tablet ou no smartphone não determina o problema. Os cinco sinais da
dependência são pensar exageradamente na internet, ter necessidade de
ficar cada vez mais tempo conectado para se sentir bem, esforçar-se
continuamente para diminuir o tempo online, irritar-se quando está longe
da internet e usar a rede para escapar de problemas ocasionais.
É requisito do diagnóstico, também, que o
uso da tecnologia interfira nas atividades cotidianas e no
comportamento psicológico. “Afastar-se das pessoas, ter um menor
rendimento no trabalho e deixar de fazer qualquer coisa para estar
conectado pode ser sinal de dependência”, diz Sandro Caramaschi,
professor do departamento de psicologia da Universidade Estadual
Paulista (Unesp). Segundo Caramaschi, o diagnóstico costuma ser feito
por pessoas que convivem com dependente. “O indivíduo em si não repara. É
preciso alertá-lo e ajudá-lo a procurar um especialista.”
O tratamento se baseia em psicoterapia e
medicamentos como antidepressivos, ansiolíticos e estabilizadores de
humor. “Nas sessões, não falamos sobre a internet, mas sim do contexto
em que a pessoa está vivendo e as emoções que ela estaria evitando.
Quando se descobre os principais motivos, fica mais fácil o próprio
usuário achar outros meios de se confortar, como conversar com um
amigo”, explica Nabuco. Segundo ele, a adição à internet pode ser uma
muleta psicológica para outros problemas pré-existentes. “Pesquisas
constataram que 90% desses viciados têm traços de depressão,
bipolaridade e fobia social.”