O suicídio é uma consequência extrema de
questões não problematizadas. É desta maneira que o psicólogo Alexandre
Braga, que atende pelo Zenklub – plataforma de vídeo-consultas com
psicólogos, começa a tratar o assunto, que para ele ainda é visto como
um tabu. “É preciso deixar claro que não há como dividir as pessoas em
dois blocos, um com potenciais suicidas e outros que não correm o risco.
O sujeito que se suicida quer exterminar o sofrimento e não a vida.
Todos nós sofremos e, por isso, podemos optar por tirar a nossa própria
vida em um momento em que nos vemos sem esperança”, explica o
especialista.
De acordo com ele, nos tempos atuais as
pessoas buscam o prazer imediato o tempo inteiro como uma saída para
evitar sofrer ao invés de tentar compreender as suas dores. “Buscar um
psicólogo é pagar para ouvir o que não queremos, entretanto, o que é
necessário. O vazio que sentimos não é uma doença, é uma condição
humana”, conta Braga. “Desmistificar a terapia é urgente porque cuidar
da saúde mental é tão importante quanto a saúde física. Não sabemos
quando e porquê, mas é certo que sempre teremos algum sofrimento
psíquico que nos obriga a olhar pra si mesmos e evoluir a partir disso”.
Não tomar contato com o que nos faz
sofrer é como uma represa que pode transbordar a qualquer momento.
Quando isso acontece, o especialista conta que o fato de não termos
intimidade com as nossas dores, faz com que não nos reconheçamos e a dor
se torne insuportável, maior que o próprio eu.
Para esclarecer, Alexandre usa da
expressão “empurrou a sujeira para debaixo do tapete”. Para ele, essa é a
melhor forma de entender o que acontece com a nossa saúde mental.
“Vamos evitando o desprazer de conviver com as nossas angústias e um dia
parece que alguém bateu o tapete e todos os nossos problemas vieram à
tona. Por isso, muitas vezes as pessoas não conseguem dizer o que
sentem. Tudo fica muito mais confuso. A faxina interna deve ser uma
prática constante para evitar essas avalanches”.
O psicólogo revela alguns sinais que
podem ser identificados pelas pessoas próximas, especialmente, pais e
professores, já que a maioria dos casos é com os jovens com faixa etária
entre 15 a 29 anos de idade – em 2014 foram registrados 2.898 casos de
suicídio, dado divulgado pelo Mapa da Violência 2017, estudo publicado
anualmente a partir de dados oficiais do Sistema de Informações de
Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde.
Isolamento – apesar de
ser um comportamento tipicamente adolescente, é bom ficar atento. Não
poder conviver com o outro revela dificuldades em estar consigo mesmo.
Dificuldade de expressar agressividade
– pessoas que não reagem a diversas situações que deveriam provocar
raiva ou mesmo tristeza podem ter dificuldades em externalizar os
problemas, o que os torna muito mais difíceis de elaborar.
Excessiva adaptação –
pessoas que supostamente se adaptam facilmente a qualquer lugar,
situação e pessoas podem ter dificuldades em tomar contato com o próprio
desejo. Normalmente estas pessoas estão fechadas em seus próprios
mundos e sentem muita dificuldade de entenderem o que querem e quem são.
Bullying –quem é vítima
de bullying e tem alguma fragilidade psíquica pode não suportar o
isolamento, o medo, a raiva, entre outros sentimentos. Seria ainda mais
complexo quando se trata de uma pessoa que não compreende que é vítima e
passa a fantasiar que ela é que seria inadequada e que não vê esperança
quanto à própria vida.
Pouca autoridade dos pais
– os jovens precisam de limites e sentem-se abandonados
inconscientemente quando os pais não exercem sua autoridade. O limite é
uma forma de contenção e carinho, um contorno necessário para quem ainda
está se desenvolvendo rumo à vida adulta.
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