O sol do rio Potengi já está dando seus últimos reflexos, as lojas do centro da cidade começam a se preparar para fechar logo mais. São quase 18h, os comerciários atendem seus últimos clientes e em pouco tempo estarão nas ruas para o regresso às suas casas, um público cativo para um vendedor de pipocas montar seu carrinho de lanche na avenida Rio Branco, na Cidade Alta - e ganhar mais dinheiro do que ser professor do Programa Mais Educação. O testemunho não teria tanto valor se o vendedor, na verdade vendedores, não fosse o casal de professores Sandro Tomaz de Oliveira, 40, e sua esposa Francisca Soares Cortez, 40, do Mais Educação, que dão aulas de dança e rádio em três escolas da rede municipal de Natal, dentro do Programa Mais Educação. Nas escolas eles ganham juntos R$ 620 para dar aulas diariamente nos dois turnos. Já no carrinho de lanches, em apenas duas horas de trabalho, eles faturam cerca de R$ 1 mil vendendo pipocas, água mineral, refrigerantes e balas.
A história de informalidade do casal de professores, que tem que fazer bicos para sobreviver, não é exclusividade de programas pontuais como o Mais Educação, que funciona apenas no contraturno do ensino fundamental através de atividades de cidadania, esporte e reforço escolar. Recente estudo de professores da Universidade de São Paulo (USP), com base na Pesquisa por Amostragem de Domicílios (PNAD) realizada pelo IBGE em 2009, revelou que cerca de 10% dos docentes brasileiros da educação básica, ou seja, 226 mil professores, complementam suas rendas com atividades desempenhadas fora do magistério, sobretudo através de vendas de cosméticos.
Esse índice está bem acima do da população brasileira que tem outro trabalho, que é 3,5%. Outro dado relevante sobre a complementaridade da renda familiar da categoria pode ser extraído do Censo do Professor (MEC/INEP-2009). O estudo indica que, pelo menos, um terço do professorado da educação básica pública desempenha dupla ou tripla jornada de trabalho naprofissão. Ou seja: a renda é reforçada por meio do principal instrumento de trabalho, porém de forma que compromete a saúde do educador e a própria qualidade do ensino.
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