“É difícil manter as esperanças com um chicote nas costas”, diz Victor Hugo.

Corá, chefe dos escravos hebreus, não é bem visto pelo seu jeito cafajeste e corrupto. O capataz não respeita nem mesmo a esposa, Bina (Kátia Moraes), e parte para cima da cunhada Safira (Jeniffer Setti) dentro da própria casa. O ator Victor Hugo, intérprete do personagem, explica que a vida dura fez de Corá um homem imoral.

─ Ele não age de forma correta, isso é claro. Sempre procuro descobrir em meus personagens onde a esperança foi perdida, onde a poesia e beleza deixaram de existir. Não temos referência sobre o passado de Corá, mas, como os outros hebreus, ele deve ter visto o pai morrer trabalhando, foi ralar desde cedo como escravo, levou muita chicotada e lutou para não passar por aquilo para sempre. Ninguém quer passar fome ou apanhar, então, quando há uma tirania em que a força dominante é opressora, a moral não cabe e a ética é deixada de lado. Você pode ter fé e esperança, mas é difícil mantê-las com um chicote nas costas.

Corá é o tipo de homem capaz de prejudicar o próximo, ainda que este seja um parente, para não viver de forma desumana e desconfortável. Para Victor Hugo, nos dias de hoje, existe o medo de ajudar e ser prejudicado. 

─ Corá é a ovelha negra, uma exceção nesta história, mas hoje em dia existem muitos como ele, mesmo que em diferentes situações. Muita gente não pensa em nome da moral e da ética, infelizmente. Na cabeça da maioria, é melhor fingir que não viu algo para subir, do que estender a mão ao próximo e descer. Meu personagem trabalha em uma zona perigosa e faz coisas ruins sem peso na consciência, pois não quer voltar a tomar chicotada.