Mas o holofote da nação colocado no grave fato de que o enrolado Queiroz estava escondido na casa do advogado da família presidencial, Frederick Wassef, “o anjo”, fez a estratégia do ministro ser posta em prática rapidamente. Segundo o interlocutor do governo, Fábio Faria usou a grave situação para imediatamente iniciar seu plano e apaziguar os ânimo nos três poderes.
Além de aconselhar o presidente a se calar para preservar o filho Zero Um, Flávio Bolsonaro, ele deu ideias ao próprio senador e explicou, segundo o relato obtido pela coluna, que era preciso urgentemente diminuir a temperatura entre o executivo, o legislativo e o judiciário.
Naquele momento, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), já havia determinado uma série de decisões que contrariaram o governo. O presidente tinha atacado o magistrado e a corte reagira em sua ajuda. Ministros do STF, antes desafetos, se juntavam na defesa do colega de toga, hostilizado não só por Bolsonaro, mas pela impiedosa seita bolsonarista.
O episódio da nota do general Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), dizendo que a apreensão do celular do presidente teria “consequências imprevisíveis” ainda gerava ondas em Brasília quando Fábio Faria assumiu o Ministério das Comunicações.
Em meio a esse quadro de conflito, o decano Celso de Mello havia, dias antes da posse do genro do Silvio Santos, compartilhado um editorial do Financial Times que atribuía a Bolsonaro a ascensão do “medo” na democracia brasileira, com o risco real e crescente de uma virada autoritária. O magistrado do STF ainda tinha comparado o ideário bolsonarista e de seus seguidores a movimentos da Alemanha Nazista de Adolf Hitler.
Fábio Faria então atravessou a rua. Saiu do Congresso Nacional, que também estava em chamas por diversos pedidos de impeachment e, na experiência do quarto mandato de deputado federal, assumiu o posto no alto escalão do governo. Seu primeiro ato foi colocar o então secretário de Comunicação Social Fábio Wajngarten no bolso e pedir a diminuição dos ataques à imprensa. Hoje, Wajngarten está sob sua tutela como secretário-executivo do ministério.
Em seu discurso de posse, o genro do Silvio Santos deu a deixa para os mais atentos: “O grave momento também exige de nós uma postura de compreensão, de abertura ao diálogo. Se é tempo de levantarmos a guarda contra o novo coronavírus, também é hora de um armistício patriótico e deixarmos a arena eleitoral para 2022 […] Deixemos as nossas diferenças político-ideológicas de lado para enfrentarmos esse inimigo invisível”.
Na mesma fala, o ministro das Comunicações ainda elogiou a TV aberta e fechada, dizendo que elas são prioridade do governo, e fez o impensável: teceu comentários positivos sobre os jornais – esses mesmos tão atacados por Bolsonaro. Segundo Fábio Faria, os matutinos “ajudam a aprofundar as reflexões da sociedade”, numa visão completamente diferente do chefe, que só diz ler fake news.
O plano de Fabio Faria sempre foi o de fazer Bolsonaro calar. Emudecer. E, enquanto isso, trabalhar, nos bastidores, pela diminuição da tensão. O que não se sabia era que a prisão de Fabrício Queiroz seria, como explicam interlocutores do governo, tão fundamental para ajudar a gestão a voltar aos trilhos. Voltar, não, encontrá-lo pela primeira vez – já que a política do confronto do presidente começou imediatamente após a posse.
Por tudo isso, Fábio Faria tem sido chamado, à surdina, na Esplanada dos Ministérios pelo curioso apelido de “domador de Bolsonaros”, esse espécime exótico da política nacional. Ele pode ter sido ajudado pelas circunstâncias, mas conseguiu fazer, ao menos até aqui, o que generais de quatro estrelas, políticos experientes das mais diversas matizes, inclusive os enrolados na Justiça, e magistrados com mais interlocução com o governo… tanto falharam.
*As informações são do jornalista Matheus Leitão, para a Veja
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