Com aeroportos vazios e sem passageiros, o setor aéreo enfrenta um período dramático com centenas de aviões parados e prejuízos que somam vários milhões de reais por dia. O quadro negativo, porém, gerou uma situação inédita para o passageiro: nunca foi tão barato voar no Brasil. Em 2020, pela primeira vez na história, o preço médio para voar dentro do país ficou abaixo de R$ 300.
Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) revelam que o valor médio das passagens domésticas está em R$ 270,37 por trecho. Esse é o menor valor nominal da série histórica iniciada em 2002. A passagem média deste ano é 19,8% menor que a vista em 2019 e redução chega a 64% na comparação com o início da série há 19 anos.
Os números da Anac atualizados até maio mostram que 56,1% dos passageiros que voaram nas rotas domésticas em 2020 pagaram menos de R$ 300. Essa é uma situação inédita. Para comparação: no ano passado, a situação era exatamente inversa e a maioria – 53,7% dos passageiros – pagou mais de R$ 300 para entrar em um avião.
Em algumas rotas, o fenômeno é ainda mais acentuado. Na mais movimentada do Brasil: a ponte aérea entre os aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio de Janeiro, a tarifa média está 23,7% menor que o visto ano passado. Hoje, a média para voar entre as duas metrópoles é de R$ 246,98.
Esse fenômeno tem sido gerado pela dramática situação atual do setor aéreo brasileiro. No desespero para tentar aumentar a ocupação dos aviões, as companhias reduziram preços agressivamente. De janeiro e maio, 12,2% das passagens custaram até R$ 100 – uma situação nunca vista na história do mercado aéreo nacional. Proporcionalmente, as passagens de até R$ 100 têm praticamente o dobro da presença vista no ano passado e quase oito vezes mais que uma década antes. Isso quer dizer que 2,8 milhões de passageiros pagaram menos de R$ 100 para voar entre janeiro e maio de 2020.
Como tudo na economia, o fenômeno tem nuances e não se repete em todas as rotas e há voos em que os preços subiram – e muito. Para voar do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para Belém, por exemplo, a passagem média subiu 45% e atualmente está em R$ 605,30. Outra rota que também subiu foi entre o Galeão e João Pessoa. Nesse caso, a passagem neste ano está 14,4% mais cara, a R$ 675,60 na média.
Enquanto as empresas aéreas baixam preços para tentar atrair passageiros, o setor ainda espera o socorro do governo. Ao contrário das promessas, a principal ajuda às empresas – que seria o empréstimo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) – ainda não saiu. Em Brasília, autoridades têm sempre prometido que o crédito sairá “em breve”. Por enquanto, o governo só comemorou a aprovação de medidas relacionadas ao setor aéreo no Congresso Nacional, mas que ajudam mais o consumidor que as companhias.
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