Durante 27 meses, pesquisadores acompanharam 8.442 vítimas de insuficiência cardíaca de 47 países
Uma das descobertas mais fascinantes da
história da medicina foi feita pelo médico inglês William Harvey
(1578-1657) acerca do sistema circulatório. Ao tomar em suas mãos o
coração ainda vivo de cobaias de laboratório, ele testemunhou o
funcionamento do intrincado labirinto de veias e artérias que entravam e
saíam daquele “músculo oco”, segundo sua definição. “Durante o tempo em
que o coração se move, contrai-se por inteiro; encolhe as suas
paredes; os ventrículos são reduzidos e expulsam o seu conteúdo
sanguíneo (…) Quando o coração está tenso, a ponto de expulsar o sangue
que estava anteriormente encerrado, empalidece e volta a relaxar e a
permanecer quieto, mas logo em seguida, assim que o sangue volta a
chegar ao ventrículo, o coração adquire a cor púrpura”, lê-se no livro Exercitatio Anatomica de Motu Cordis et Sanguinis in Animalibus (Estudo
Anatômico sobre o Movimento do Coração e do Sangue nos Animais), de
1628. “O coração é uma bomba”, concluiu Harvey. Abriu-se ali o caminho
para o entendimento de uma doença que, descrita na Antiguidade, desafia a
medicina até hoje: a insuficiência cardíaca sistólica — sístole é o
movimento de contração do coração, quando ele ejeta o sangue para os
outros órgãos e tecidos. Caracterizado pelo enfraquecimento do músculo
cardíaco e, consequentemente, pela dificuldade de bombeamento do sangue
do coração para o resto do organismo, o distúrbio decorre de alguns dos
mais nefastos males da modernidade — infarto, hipertensão, colesterol
alto, diabetes, obesidade. Cada uma a seu modo, tais condições lesionam o
músculo cardíaco, comprometendo o seu funcionamento. Com 26 milhões de
doentes no mundo, 6 milhões deles no Brasil, a doença do coração cansado
mata mais do que os cânceres de mama e de intestino juntos. Entre os
brasileiros, há, em média, 27 000 óbitos por ano.
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