"Quando li a reportagem sobre a ação que pede a liberação do aborto em
caso de microcefalia no Supremo Tribunal Federal (STF), levei para o
lado pessoal. Me senti ofendida. Me senti atacada.
No dia em que nasci, o médico falou que eu não teria nenhuma chance de
sobreviver. Tenho microcefalia, meu crânio é menor que a média. O doutor
falou: "ela não vai andar, não vai falar e, com o tempo, entrará em um
estado vegetativo até morrer".
Ele - como muita gente hoje - estava errado.
Meu pai conta que comecei a andar de repente. Com um aninho, vi um
cachorro passando e levantei para ir atrás dele. Cresci, fui à escola,
me formei e entrei na universidade. Hoje eu sou jornalista e escrevo em
um blog.
Não é fácil, claro. Tudo na nossa casa foi uma batalha. Somos uma
família humilde, meu pai é técnico de laboratório e estava desempregado
quando nasci. Minha mãe, assistente de enfermagem, trabalhava num
hospital, e graças a isso nós tínhamos plano de saúde.
A gente corta custos, economiza, não gasta com bobeira. Nossa casa teve
que esperar para ser terminada: uma parte foi levantada com terra da
rua para economizar e até hoje tem lugares onde não dá para pregar um
quadro, porque a parede desmancha.
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