quarta-feira, junho 01, 2022

Matrículas das universidades federais caem pela primeira vez desde 1990.

George Monteiro, de 20 anos, já tinha encaminhada sua trajetória acadêmica. Ex-aluno de um instituto federal no ensino médio, foi aprovado em 2020 para cursar Pedagogia na Universidade Federal da Paraíba. Em momento algum pensou que precisaria desistir dessa trilha. Mas aconteceu.

— Nunca pensei em interromper esse sonho para trabalhar. Comecei minha faculdade na pandemia e logo depois precisei de um emprego. Está tudo bem caro. Só minha irmã trabalha em casa e preciso ajudar para garantir a segurança alimentar da minha família — conta o jovem, que agora está desempregado, mas vai precisar continuar trabalhando. — Fico triste demais de falar isso. 

O morador de João Pessoa não está sozinho. Pela primeira vez desde 1990, o Brasil registrou queda de matrículas nas universidades federais, entre 2019 e 2020 — passando de 1,3 milhões para 1,2 milhões. Entre os principais motivos, está o maior número de trancamentos já registrado na história da rede (270 mil). Os dados são do mais recente Censo de Educação Superior, divulgado neste ano.

— Também foi muito difícil estudar durante a pandemia no ensino remoto. Não tenho um lugar adequado e só um celular para acompanhar as aulas — conta George. 

O ensino remoto também impediu Larissa Geovana de continuar estudando na Universidade Federal de Alfenas, em Minas Gerais. Mãe de um menino de quatro anos, Larissa não conseguiu assistir às aulas de forma on-line e reprovou em todas as disciplinas. Trancou, mas pôde retornar neste semestre, quando as aulas voltaram ao presencial.

— Tranquei porque minha psicóloga me indicou. Espero conseguir me formar agora — afirma a jovem. 

Primeira da família a acessar a universidade pública, Rhaissa Vieira, 28 anos, conseguiu conciliar toda a graduação na Universidade Federal Fluminense com o trabalho. Na pandemia, não deu conta e trancou faltando apenas um período para o sonhado diploma.

— Foi muito dolorido tomar essa decisão. Não dei conta emocionalmente — admite .

A jovem diz que precisava conciliar o estudo com o trabalho mesmo recebendo a bolsa de pesquisa. Segundo Rhaissa, os R$ 400 que ganhava “não davam para nada”. Por isso, foi vendedora, babá, manicure e, por fim, professora de educação infantil, graças à formação no normal do ensino médio.

— Ao longo da graduação, passei por vários problemas financeiros e familiares, mas consegui levar. No final, não dei conta da modalidade remota. Foi uma situação limite mesmo — conta.

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