Aos 68 anos, Herbert Fontenele recebeu o
diagnóstico de câncer de próstata metastático. O tumor invadira a
bexiga, a uretra e os ossos. Era 2009. Pelas estimativas médicas,
Fontenele teria apenas um ano de vida. Mas ele não desistiu. Foram doze
sessões de quimioterapia e outras 32 de radioterapia. E os efeitos
colaterais do tratamento, terríveis — dores fortes na região do abdômen,
vômitos constantes e prostração. “O sofrimento era tão grande que
cheguei a pensar que deveria ter deixado a doença seguir seu rumo
natural”, diz Fontenele. A situação começou a mudar em 2010, quando ele
participou das pesquisas finais de um novo medicamento para câncer de
próstata metastático, a abiraterona.
Em seis meses, seu quadro clínico se
reverteu. O PSA, o principal marcador sanguíneo da doença, atingiu uma
taxa equivalente à de um homem saudável, de 0,3. Fontenele mantém a
terapia com o medicamento e seguirá assim até o momento em que o câncer
deixar de reagir à abiraterona — quatro comprimidos diários e nenhuma
reação adversa. Hoje, a vida dele é a mesma de antes da doença:
trabalha, passeia com os amigos, viaja com a família e faz caminhadas
pelas praias de São Luís, no Maranhão, onde mora.
A reviravolta na doença de Fontenele é
um excelente retrato da história do tratamento do câncer de próstata
metastático. Lançada comercialmente no Brasil em 2012, a abiraterona é
um dos quatro novos medicamentos desenvolvidos nos últimos três anos
para o combate à doença. Com eles, a taxa de sobrevivência dos doentes
aumentou 30%, em cinco anos. Pode parecer pouco, mas não é. A elevação
da taxa de sobrevida nos últimos cinco anos de pacientes com tumores
avançados de mama girou em torno dos 20%. Dos de intestino, 10%.
O tempo a mais que esses remédios
proporcionam é como aquele que Fontenele experimenta — sem dores, sem
prostração, sem enjoos. Vida normal, portanto. O diagnóstico de câncer
de próstata metastático já não significa mais necessariamente uma
sentença de morte. “Trata-se do maior impacto já visto em tão pouco
tempo no tratamento de qualquer câncer metastático”, diz Fernando Maluf,
chefe da oncologia clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de
Moraes, da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.
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