quarta-feira, março 01, 2017

Uma em cada cinco crianças nascidas no Brasil é filha de adolescente.

Aos 17 anos, Sandra Maria da Silva, 40, dava à luz seu primeiro menino. Hoje, sua filha Teresa Raquel repete sua trajetória e, também aos 17, acaba de ter uma menina.

A história de Sandra e Teresa não é rara num país onde um a cada cinco bebês nascidos por ano é filho de uma adolescente —431 mil em 2016, de acordo com levantamento preliminar do Datasus.

E essa proporção custa a cair. Nos últimos dez anos, a taxa de nascidos vivos de jovens menores de 20 anos no Brasil se manteve em patamar elevado —de 21,1% do total, em 2007, para 21,2%, em 2016.

Nos EUA essa taxa diminuiu 44% entre 2007 e 2015 (último dado disponível) —os bebês de mães adolescentes são perto de 6% do total.

No Brasil, Norte e Nordeste têm os maiores índices -quase um terço de gestações precoces. Em São Paulo, embora as taxas sejam mais baixas (15,1% no Estado e 12,5% na cidade), a queda é lenta.

Especialistas apontam um ciclo: quanto mais periférica e vulnerável a população, mais mães jovens, condição que agrava a pobreza e gera mais gestações antecipadas.

A evasão escolar entre elas é alta, e a inserção no mercado de trabalho é baixa. Estudo do Ipea (instituto federal) apontou que 76% das brasileiras de 10 a 17 anos que têm filhos não estudam -e 58% não estudam nem trabalham.Camila Dourado, 18, terminou o ensino médio em 2015 e carrega no colo seu segundo filho -o primeiro nasceu quando ela tinha 15 anos. “Vou cuidar dele até ele fazer um ano. Depois não sei.”

Outro elemento que estimula a gravidez precoce é a volatilidade da adolescência. São maiores as chances de a menina esquecer de tomar a pílula, deixar de usá-la quando terminar o namoro ou de não contar à família que tem relações sexuais. “A jovem tem um pensamento de que nada vai acontecer com ela. A amiga engravida, mas ela não”, afirma a obstetra Cristina Guazzelli, da Unifesp.

De acordo com o neonatologista Sérgio Marba, da Unicamp, esses bebês também têm maior risco de prematuridade, baixo peso, mortalidade e complicações como má formação. “É uma mãe que não faz pré-natal direito, tem condição socioeconômica mais complicada e muitas vezes esconde a gravidez.” Via Folha de São Paulo.

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