Professora de Inglês e Espanhol em duas escolas privadas de São
Paulo, Agnes Cruz, de 29 anos, dá quase 12 horas diárias de aula para
mais de 700 alunos. E em alguns dias da semana ainda tem aulas
particulares. Uma pesquisa do Movimento Todos pela Educação identificou
que, assim como Agnes, 29% dos docentes da educação básica (do ensino
infantil ao médio) exercem outras atividades, além de atuar nos
colégios, para complementar a renda.
Na rede privada, 38% recorrem ao “bico”. O porcentual é superior aos
do sistema público – 22% nas redes municipais e 30% nas estaduais,
segundo levantamento do Todos pela Educação com mais de 2 mil
professores de todas as capitais do País, de março a maio deste ano.
Mas, ao contrário de Agnes, a maior parte dos professores não desenvolve
atividades relacionadas à educação, mas a comércio, produções
artísticas e prestação de serviços.
É o caso de Maria (nome fictício), de 27 anos, professora de
Geografia em uma escola particular na região central paulistana. Há
cinco anos lecionando, ela procura emprego em mais uma unidade. Enquanto
não consegue, aproveita o intervalo das aulas para vender produtos de
beleza aos colegas. “O salário está sempre no limite, pago as contas
básicas e não sobra dinheiro para nada. Infelizmente não consigo exercer
só a minha profissão para ter uma boa condição financeira”, diz. “É
cansativo, porque tenho de me organizar para ir buscar produtos e
oferecer sempre aos colegas.”
Segundo o estudo do Todos, em média, o incremento na renda é de R$
439,72 mensais. Pesquisa sobre remuneração na carreira do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério
da Educação (MEC), mostrava diferenças entre as redes pública e
privadas em 2014 (não há atualização do estudo). Docentes de escolas
particulares tinham naquele ano o menor salário médio do País – de R$
2.996, 66, valor 16,2% menor do que nas redes estaduais e 12,1% a menos
que nas municipais.
“Há uma visão de que a escola particular é de elite, mas os dados
mostram que a realidade da maioria não é essa”, diz Priscila Cruz, do
Movimento Todos pela Educação. Para ela, o professor, ao ter de realizar
“bico” para complementar a renda, tem menos tempo disponível para as
atividades ligadas à docência, como preparação de aulas, correção de
atividades e cursos de especialização e formação.
“Não podemos esquecer que professores são profissionais com ensino
superior completo, têm demandas de consumo mais sofisticadas, o que se
reflete em sala de aula, em um ensino de qualidade. Se os pais querem
esse ensino para os filhos, devem cobrar das escolas um salário melhor”,
afirma Priscila.
Agnes conta que procurou um segundo emprego e passou a dar aulas
particulares há dois anos. Trabalha agora de segunda a sexta-feira, das 7
horas às 17h30, além de corrigir provas e trabalhos e das aulas em
casa. “Gosto de viajar, ler, ir ao cinema. Esses momentos de lazer são
importantes para a minha vida e para as minhas aulas.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário