O perito Ricardo Molina, contratado pela defesa do presidente Michel
Temer, afirmou que a gravação feita pelo empresário Joesley Batista de
sua conversa com o presidente, entregue ao Ministério Público Federal
(MPF) no acordo de colaboração premiada, é “imprestável como prova”. Ele
concedeu entrevista coletiva e disse que o áudio entregue pelo
empresário “está completamente esburacado”.
Molina explicou que a gravação foi feita em qualidade muito baixa e o
áudio apresenta descontinuidades. Ou seja, não é possível, segundo o
perito, afirmar que não houve edição no áudio. “Não posso dizer se houve
edição, ou não. Até por uma razão simples, porque não dá para escutar,
na maior parte do tempo, o que o presidente está falando”. Para ele, a
gravação não poder ser considerada autêntica. “Ela é ruim e deve ser
descartada. Eu não posso garantir que ela não foi manipulada.”
Apontado pela defesa como “o melhor perito do Brasil”, Molina
destacou o trecho no qual Joesley cita o ex-deputado Eduardo Cunha e a
resposta de Temer: “Tem que manter isso, viu?”. O perito explica que
nesse trecho, de 17 segundos, foram encontrados seis pontos de possível
edição. Molina diz ainda que, em trechos de conversa menos relevante
para o processo, não há tanta interferência no áudio. O perito informou
que analisou a gravação durante dois dias e duas noites, junto com mais
dois profissionais.
O perito também criticou a postura do MPF de anexar a gravação ao
inquérito sem tê-la submetido à perícia da Polícia Federal (PF). “Eles
concluem que o diálogo ‘encontra-se audível, apresentando sequência
lógica’. Na fala do presidente, mais da metade é ininteligível. Se [a
fala] de um dos interlocutores que participaram da gravação é
ininteligível, como dizer que tem sequência lógica?”, questionou.
Molina apontou vários momentos em que há descontinuidades na
gravação. Ele disse que o gravador utilizado por Joesley opera em
qualidade muito baixa, em frequência de 4bits. “São até raros os gravadores que usam 4bits. Causa até estranheza que uma gravação de tal importância tenha sido feita com um gravador tão vagabundo”, disse.
Joesley Batista gravou conversa que teve com Temer no Palácio do
Jaburu, em março, e entregou cópias do áudio à Procuradoria-Geral da
República (PGR), com a qual firmou acordo de delação premiada, já
homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o MPF, no
encontro com Batista, Temer deu aval para que ele continuasse a pagar
uma espécie de mesada ao ex-deputado Eduardo Cunha e ao doleiro Lúcio
Funaro, ambos presos, para que continuassem em silêncio. O áudio da
conversa, gravada por Joesley, foi tornado público na última
quinta-feira (18).
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