O desvio de recursos públicos para campanhas eleitorais, usando
principalmente candidaturas “laranjas”, já rendeu 221 inquéritos
conduzidos pela Polícia Federal neste ano. O número representa 12,5% do
total de investigações sobre caixa 2, o crime mais denunciado nas
disputas políticas. A quantidade de inquéritos, no entanto, tende a
aumentar, já que Ministérios Públicos de sete Estados avaliam outras 140
notificações de irregularidades.
As irregularidades ocorreram na eleição de 2018, a primeira em que as
legendas tiveram de repassar, obrigatoriamente, 30% dos fundos
partidário e eleitoral para mulheres. Há a preocupação de que a prática
se repita na eleição municipal do ano que vem, quando os partidos devem
ter acesso a R$ 3,8 bilhões de fundo eleitoral, mais que o dobro do
destinado na campanha passada.
A PF concluiu, até agora, 12 inquéritos que apontaram a apropriação
de verba do financiamento eleitoral. A existência de um “laranjal” nas
eleições de 2018 também chamou a atenção do Ministério Público. Os dois
casos mais célebres atingem mulheres que entraram no páreo por vagas de
deputadas estadual e federal em Minas Gerais e em Pernambuco.
Elas são suspeitas de fazer parte de esquemas arquitetados para
construir candidaturas de fachada, com o objetivo de irrigar outras
campanhas e beneficiar o presidente nacional do PSL, deputado Luciano
Bivar (PE), e o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, que
comandava o partido em Minas no ano passado. Ambos negam as acusações.
No Mato Grosso do Sul, a candidata a deputada estadual Gilsienny Arce
Munhoz (Republicanos) foi acusada de ser “laranja”. Para receber 491
votos – ou 0,04% dos válidos -, ela gastou R$ 761 mil, sem comprovar o
uso da maior parte dessa verba, de acordo com a investigação. A denúncia
do MP incluiu também o presidente regional do partido, pastor Wilton
Acosta, e outras três pessoas.
Gilsienny negou ter cometido qualquer irregularidade e disse que não
pode ser chamada de “laranja”. “Foi a primeira vez que concorri e muitos
homens não tiveram essa quantidade de votos”. Na visão dela, se houve
algum desvio, foi pelas outras pessoas denunciadas. Já o pastor Wilton
afirmou que vai esperar os detalhes da investigação, mas disse que sua
prestação de contas foi aprovada.
Há, ainda, investigações abertas em São Paulo, Ceará, Tocantins e Mato Grosso.
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