Um testemunho de amizade grafado na pele. "Bruno e Maka. Amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir, amor verdadeiro". A tatuagem feita nas costas pelo melhor amigo do goleiro Bruno, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, fomentou especulações sobre um relacionamento homossexual entre os dois e de uma possível confissão de Luiz para livrar o amigo. No entanto, Macarrão quebrou todas as expectativas e surpreendeu o júri ao confirmar, durante depoimento nesta madrugada, em Contagem, que o goleiro Bruno foi o único responsável por arquitetar o sumiço da modelo Eliza Samudio. Durante o interrogatório da juíza Marixa Rodrigues, ele disse que as acusações que recaem sobre ele são parcialmente verdadeiras, afirmou que não é um monstro como tem sido tratado e ressaltou que só não falou nada antes porque os advogados não o permitiam. A principal parte da confissão foi feita em meio a muito choro do réu.
Em seu depoimento, Macarrão desmentiu a versão prestada anteriormente à Justiça, na qual contava ter deixado Eliza em um ponto de táxi, e revelou que levou a modelo até um homem que desembarcou de um Palio preto na Região da Pampulha. Ele não soube dar detalhes da suposta execução e do que aconteceu depois, mas inocentou Elenilson, Wemerson e Fernanda. "Por ter complicado a vida deles por tanto tempo, peço perdão. Que possam me perdoar", declarou, após dizer que também pedia perdão à mãe da vítima. Macarrão ainda contou que, pressentindo que iriam executar a modelo, tentou aconselhar o amigo. "Eu falei com ele, Bruno, estou te falando como irmão, deixa essa menina em paz, deixa essa menina", contou. O goleiro, no entanto, teria respondido, batendo no peito: 'deixa comigo'.
Ao fim do interrogatório da juíza Marixa Rodrigues, Macarrão desbafou. "Se tem alguém que acabou com a vida de alguém, foi o Bruno, que acabou com a minha vida", declarou. Desde o início de seu depoimento, ele se referiu ao goleiro, na maior parte do tempo, por “meu patrão”, não pelo nome. Transpareceu certa mágua quando disse que o ex-atleta o viu chorar dirariamente durante os dez meses em que partilharam cela na cadeia, mas jamais admitiu a possibilidade de revelar a trama e inocentar os demais envolvidos no caso.
Macarrão começou a responder às perguntas da magistrada por volta das 23h20. Às 1h20 a mãe de Eliza Samudio, Sônia de Fátima Moura, que prestou depoimento pela manhã e acompanhou todo júri atentamente, deixou o plenário. A advogada que a representa, Maria Borges Gomes, esclareceu que pediu à Sônia que voltasse para o hotel ao perceber que Luiz Henrique estava arrastando o relato. Para ela, a presença da mãe de Eliza estaria constrangendo o depoente, que acabou revelando que a modelo foi de fato enviada à morte por Bruno vinte minutos depois que Sônia se ausentou.
Em momento algum Macarrão citou o nome do ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, apontado pela promotorita como o matador contratado por Bruno para dar fim à vida de Samudio. Ele afirmou que não viu quem era o homem no Palio preto que recebeu a vítima na Pampulha. Destacou que ela foi iludida por Bruno, que disse para ela acompanhar o amigo de infância porque iria ser levada, por uma terceira pessoa, até um apartamento que o atleta comprou para ela. Ele ainda garantiu que desconhece como se deu a execução da jovem, embora o adolescente primo do goleiro tenha narrado, com riqueza de detalhes, a cena macabra de asfixia e esquartejamento da vítima, na presença dele e de Macarrão.
“Se eu soubesse onde estava o corpo, teria assumido o crime sozinho, há dois anos, pelo vínculo de amizade com Bruno, a quem tinha como um irmão”, declarou ao júri. Chorando muito, ele disse que sofreu a angústia de ser responsabilizado por um crime que não arquiterou durante “dois anos, quatro meses e 22 dias”, destacando que teme ser morto daqui em diante. Ele falou claramente que teme represália por parte do próprio goleiro.
A confissão continuou com o interrogatório do promotor Henry Castro, que saudou o réu pela coragem de quebrar o silêncio. Foi nesta etapa que o nome de Bola foi citado pela primeira vez. Quem o citou foi o representante do Ministério Público, que quis saber se Macarrão o conhecia. O réu garantiu que só conheceu o ex-policial civil durante banho de sol na Penitenciária Nelson Hungria.
Os registros das ligações telefônicas entre os aparelhos celulares de Bola e Macarrão foi o ponto mais abordado pelo promotor. Macarrão disse que falava muito com o ex-policial, cuja identidade e nome desconhecia, porque, a pedido de Bruno, buscava negociar o ingresso do filho de Marcos Aparecido no time 100%, patrocinado pelo atleta. Macarrão afirmou que só tratava o interlocutor por 'parceiro', 'irmão' ou 'cara'. Disse ainda que seu celular era usado por todos do círculo de convivência de Bruno, o que justificaria o grande volume de ligações feitas e recebidas.
Concluído o interrogatório do promotor, a juíza concedeu aos assistentes de acusação e à advogada que representa a mãe de Eliza formularem poucas perguntas ao réu. Em seguida, ela leu três perguntas formuladas pelos jurados. Havia ainda uma quarta pergunta dos jurados, mas a magistrada disse que não a formularia porque ela tinha tom sugestivo.
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