Dona Canô – Mãe de oito filhos,
entre eles os músicos Caetano Veloso e Maria Bethânia, ela morreu aos
105 anos, no dia de Natal de 2012, em casa
Atingir os 100 anos ou mais é para
poucos, mas no Brasil isso pode ser considerada uma tarefa hercúlea. Se
por um lado o país se tornou mais longevo – a expectativa de vida passou
dos parcos 59,6 anos, na década de 1970, para 74,8 anos, em 2010 -, por
outro, houve o decréscimo de 1,4% na população de centenários na última
década.
Pesquisadores estão tentando entender
por que é tão difícil se tornar um centenário no País. O geriatra Ângelo
Bós, do Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUC-RS, acredita que o
motivo da dificuldade do brasileiro superar a barreira dos 100 anos
esteja na falta de atendimento especializado. “Velhice não é doença,
logo ninguém deveria morrer de velho. Precisamos levar em consideração
que existe uma dificuldade de dar assistência às pessoas com mais de
90”, afirma.
Bós investigou a situação. Em 2000,
havia 261 mil pessoas com mais de 90 anos no Brasil. Dez anos depois,
apenas 24.236 estavam vivas, apenas 9,3% sobreviveram. “Todo mundo vai
morrer, mas os dados mostram que 14,2% destes centenariáveis morreram
sem assistência médica e 11,12%, de causas desconhecidas. Eu não posso
dizer que eles não teriam morrido se tivessem assistência, mas poderiam
ter sofrido menos”, disse. Neste mesmo período, entre 2000 e 2010, houve
um aumento de 81% na população de 90 a 94 anos e de 75% entre os que
têm entre 95 e 99 anos.
Para ampliar o número dos que rompem a
barreira de um século de existência, é preciso avançar na capacitação de
profissionais e nos investimentos dos governos para atender os longevos
em suas especificidades. “Com 70 anos, se a pessoa não se sente bem ela
vai ao posto de saúde. Com 80, ela vai depender do auxílio de um
parente. Aos 90, além de precisar de transporte, ela já tem filhos
idosos. Aos cem, quem vai cuidar dessa pessoa?”, diz Bós.
A falta de centenários pode ser ainda um
reflexo da saúde dos idosos brasileiros. Um estudo realizado em Porto
Alegre mostrou que nonagenários ingerem apenas 60% da quantidade de
proteína que deveriam. Em São Paulo, uma pesquisa com pessoas com 60
anos ou mais mostrou que a maioria apresentava doenças como hipertensão
arterial, obesidade, câncer, doenças cardiovasculares e artrite.
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