Zion Clark acostumou-se com a doença congênita, que afeta uma a cada 100 mil pessoas. O americano - que vive na pequena cidade de Missillon, em Ohio (EUA) -, no entanto, demorou a alcançar este poder de abstração em relação ao seu corpo. É o que ele conta em entrevista exclusiva ao Esporte Espetacular, na casa de sua mãe.
- Eu me lembro das outras crianças olhando para mim. Elas não falavam nada, mas não desgrudavam os olhos. É claro que eu não gostava. Comecei a perguntar aos professores por que isso acontecia, e eles explicavam: "Porque você é diferente". Sempre fui a única pessoa sem pernas em todas as escolas que passei, o que me deixou meio separado dos outros. Eram muitos olhares, comentários, mas eu tinha que sobreviver e prosperar.
Se o drama fosse somente este, já seria uma "barra" pesada o suficiente para quem lidaria com a falta das pernas. A dose de sofrimento, contudo, foi potencializada pelo abandono. Zion Clark não conheceu os pais biológicos. Passou fome. Rodou por cerca de oito orfanatos americanos. Sem irmãos, estava sozinho no mundo. Apanhou - tanto da vida, quanto literalmente -, e se tornou uma criança amarga.
- Uma vez me acharam trancado no porão de um orfanato, eu não me lembro, mas me contaram. Não preciso dar muitos detalhes para você perceber que essas experiências me deixaram com uma visão muito sombria do mundo. Eu me tornei uma pessoa com muita agressividade, que explodia com pequenas coisas. E foi ficando pior, bem pior.
Na dura infância, Zion Clark teve como melhor amigo o wrestling - a modalidade foi sugerida por um professor da escola onde estudava. Foi no esporte, praticado ao completar sete anos de idade, que ele se sentia igual aos demais. Não era tratado como chacota. Em um ambiente que poderia ser hostil, encontrou uma atmosfera amistosa, enfim.
- Eu fiquei tão feliz... Todo mundo me aceitou de primeira. Foi quando entendi que o mundo da luta olímpica era a minha família. Aquilo foi meu escape, minha saída. Quando eu ia praticar, não precisava me preocupar com mais nada.
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