Seis dias depois da posse, em 21 de abril, Castello vai a Ouro Preto: “O Brasil não quer quarteladas”
Às 18 horas do dia 31 de março de 1964 o
presidente João Goulart conversava com o general Peri Bevilacqua, chefe
do Estado-¬Maior das Forças Armadas. O encontro era no Palácio
Laranjeiras, rebuscada joia em estilo renascentista francês plantada num
tapete de Mata Atlântica no coração do Rio de Janeiro, e o tema era o
mesmo tratado pelo visitante anterior, o senador e ex-presidente
Juscelino Kubitschek: ainda dava tempo de salvar o governo. Se rompesse
com a ala mais radical, que queria mudar as regras do jogo a poder de
greves e insubordinações na base militar, havia uma chance de arrastar
de volta as forças já desencadeadas.
Na verdade, isso não era mais possível, e
o bilhete que o presidente recebeu, no meio da conversa, de seu
ministro da Justiça, Abelardo Jurema, era a confirmação definitiva.
“General, o general Mourão revoltou a 4a Região Militar em Minas e exige
a minha renúncia. O senhor acha isto direito?”, perguntou a Bevilacqua.
Podia não ser direito, mas era a realidade. E não era só o general
Olympio Mourão, embora a iniciativa em campo, e até uma certa
precipitação, tivesse sido dele. Estranhamente calmo, até passivo demais
para os que o cercavam, Jango já estava deposto na prática, e tomaria
uma decisão errada atrás da outra, como um personagem de tragédia grega
nos trópicos, impotente para mudar seu destino. Dois generais que não se
davam mas viriam a se suceder na Presidência, Humberto de Alencar
Castello Branco e Arthur da Costa e Silva, disparavam telefonemas
articulando a conspiração entre homens cheios de estrelas nos ombros,
dúvidas operacionais na cabeça e uma única e inescapável certeza: do
jeito que estava não iria continuar.
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