terça-feira, fevereiro 23, 2016

Artigo de Opinião: Aedes, sociedade e cidadania.

Por Luciano Damasceno.

 Hospitais superlotados, caos, pânico, medo, dor, mortes e luto. Este tem sido o cenário da nossa cidade nas últimas semanas. Como pode um pequeno mosquito nos roubar o sono, nos acometer de doenças tão horrendas e ceifar muitas vidas? Crianças, jovens, idosos, pessoas de todas as classes sociais, da zona rural e da zona urbana, do centro e da periferia, todos estamos sujeitos ao problema.

Mas, o problema não é só o mosquito. Diria mais: diria que o problema somos nós. Principalmente nós! O mosquito só se desenvolve nos locais que encontra condições ideais e favoráveis. Isto incide, indubitavelmente, num aspecto extremamente relevante no que tange a cidadania, a ética e a própria vida em comunidade. Mas, quem disse que sabemos viver em comunidade? Só lembramos do coletivo quando algo em particular nos atinge e vemos na coletividade uma maneira de culpabilizar, responsabilizar ou até mesmo amenizar o que de ruim nos acontecera.

O que eu aprendo com o aedes? Aprendo que o poder público foi pego de supetão em decorrência de tais epidemias, não esboçando nenhuma reação imediata, o que denuncia desleixo, despreparo, desorganização e falta de planejamento. Não obstante, aprendo também que sempre procuramos transferir, ao invés de assumirmos a nossa parcela de culpa. É sempre mais cômodo e confortável ao ser humano. Mas, na realidade, em raríssimas exceções fazemos a nossa parte, o que, portanto, nos toma de assalto qualquer legitimidade de protesto e, consequentemente, transfigura a nossa revolta em um vômito discursivo hipócrita, vago, ilegítimo, mesquinho e egoísta. “Dói, quando dói em mim”. É uma filosofia, um mantra, uma bandeira da sociedade hodierna: capitalista, egocêntrica e, no maior alcance semântico que esta palavra pode ter, individualista.

O descaso com os hospitais, a falta de atendimento adequado, assim como, de estrutura e de pessoal (nos sentidos quantitativo e qualitativo) trazem à tona naturalmente um sentimento de revolta, furor e desengano a qualquer cidadão que paga seus impostos e procura andar em conformidade com as leis. No entanto, a culpa não é exclusivamente do poder público, que mal administraa Saúde Pública, que gere mal os seus recursos ou que os desvirtua. A culpa também é nossa. Muito nossa. Partindo, por exemplo, da nossa inércia, quando deveríamos apresentar uma postura mais inquieta e fiscalizatória. Porém, jogamos esta conta nos ombros do Ministério Público. É mais confortável.

Em suma, o cerne da nossa discussão é a ideia de que se trata de um problema grave e que requer, deste modo, um trato especial, muita atenção e seriedade no que diz respeito aquilo que podemos fazer. Que façamos as denúncias necessárias. Que convoquemos a imprensa e os jornais. Porém, deixemos também outros debates vazios de lado e nos coloquemos em estado de alerta total. Que façamos cada um a nossa parte. Deixemos de lado as pequenas coisas e cuidemos dos nossos quintais. É, acima de tudo, uma questão de consciência, educação e cidadania.

É preciso sim, cobrar das autoridades competentes ações que lhes são atribuídas pela Lei Maior. Uma vez não fazendo isto, estaremos abrindo mão de um direito que nos é garantido. Entretanto, comecemos a cobranças por nós mesmos, tendo uma atenção mais do que especial sobre as nossas casas, quintais, propriedades, comunidade, etc.

É momento de unirmos forças. Entidades que compõem o poder público, instituições privadas, sociedade civil, ONG’s, associações e, principalmente, cada um de nós, incluindo esta batalha na pauta dos nossos afazeres cotidianos. Só assim, conseguiremos vencer esta guerra.

Luciano Damasceno.
Historiador – Professor da Rede Privada e Rede Pública Estadual de Ensino – Estudante de Direito da UFRN.

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