O
Brasil atravessa uma dura crise política e econômica há mais de três
anos, e, para os mais otimistas, a impressão era de que as turbulências e
os traumas eram efeitos colaterais esperados em uma democracia que
busca combater a corrupção e a impunidade para amadurecer. Acreditava-se
que o país estava afundando, mas para renascer uma versão melhor de si.
Essa ilusão acabou nA quarta-feira (02/08), quando a Câmara dos
Deputados barrou a denúnciapor corrupção passiva contra Michel Temer, o
primeiro presidente na história do país a ser alvo de denúncia criminal
no exercício do cargo – flagrado mantendo conversas pouco republicanas
com um magnata investigado pela Operação Lava Jato.
Pois bem, o Brasil não está combatendo a impunidade. Nem há real
recuperação da economia. Obviamente, também não há preocupação em
reduzir a desigualdade e a injustiça social, incubadoras da violência
insuportável que se espalha por todo o país e produz estatísticas
semelhantes às de uma guerra civil.
A vitória do presidente foi, como ele próprio declarou, incontestável.
Ela foi conquistada com uma série de manobras escandalosas e a
distribuição bilionária de verbas e de cargos. E todo esse apoio já
custou ao Brasil o ajuste fiscal, a proteção da Amazônia e das metas do
clima, os direitos dos povos indígenas e sobrecarregou ainda mais o
trabalhador comum. Excluiu os excluídos de sempre e deve causar danos de
longo prazo.
Já os privilegiados de sempre continuam desinibidamente prestando
favores uns aos outros. E embora a vitória de Temer passe a mensagem de
um presidente forte, os deputados viram como pode ser lucrativo manter
um presidente encurralado e já devem esperar ansiosos por uma nova
denúncia da Procuradoria-Geral da República.
Com isso, o Brasil continua sua jornada rumo ao retrocesso. Na edição
de 2017 do ranking ”The Soft Power 30”, que mede o prestígio político do
país no exterior, o Brasil aparece na penúltima posição, à frente
apenas da Turquia – após ter liderado os Brics alguns anos atrás.
E deve continuar nas sombras até as eleições gerais de 2018. Até
porque, mesmo que o presidente fosse afastado, o problema maior
continuaria nas entranhas do Legislativo, disposto a qualquer negócio.
E o brasileiro médio assiste a tudo atônito e impassível. Aflito com
uma possível volta da esquerda e com a paranoica “ameaça do comunismo”,
teme mais seus fantasmas do que seus algozes, e prefere ficar de braços
cruzados.
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