Para sobreviver politicamente, a presidente Dilma Rousseff vai
precisar mostrar liderança mais forte e maior clareza de suas ideias,
afirma o jornal “The New York Times” em editorial publicado nesta
terça-feira, 19. A publicação norte-americana diz ainda que a presidente
precisa arrumar a economia do Brasil e barrar o avanço da corrupção,
que virou prática comum em Brasília, duas coisas que ela não foi capaz
de mostrar até agora. Já em uma reportagem sobre o impeachment, o jornal
afirma que o impedimento foi comemorado como uma partida de futebol,
mas não vai resolver a turbulência política no País.
“A presidente Dilma Rousseff deve ser expulsa do cargo com base em
alegações de que usou o dinheiro de bancos estatais para equilibrar o
orçamento”, afirma o Times no editorial. Para o jornal, Dilma tem duas
escolhas: lutar até o fim ou convocar novas eleições. Esta opção
agradaria as pessoas que defendem que a única forma de acabar com a
crise política brasileira é uma nova liderança. Em uma entrevista
coletiva na segunda, 18, a presidente afirmou, entretanto, que vai lutar
até o fim, ressalta o jornal.
O Times destaca que a mesma estratégia de Dilma para equilibrar o
orçamento, as chamadas pedaladas fiscais, foi usada anteriormente por
outros dirigentes no Brasil sem chamar muita atenção. Na essência,
afirma o editorial, o PT está sendo culpado pela crise política e pelo
avanço da corrupção que envolveu diversos políticos do partido e de
outras siglas em Brasília.
Para a publicação, Dilma e seus defensores vão continuar apontando
que os responsáveis pela condução do processo de impeachment no
Congresso estão sendo investigados por crimes mais sérios do que a
presidente. “Este ponto é válido”, destaca o jornal, com a ressalva de
que a gestão de Dilma foi marcada por uma estagnação econômica e uma
escalada da corrupção.
Futebol.
Em uma reportagem sobre a votação do impeachment também na edição
desta terça-feira, o Times ressalta que a votação na Câmara e a reação
dos brasileiros nas ruas mais parecia uma partida de futebol. Apesar da
comemoração, o impedimento não vai acabar com a turbulência política no
Brasil, afirma o texto.
“Na segunda-feira, os brasileiros acordaram com a dura realidade de
que a turbulência política e econômica que consumiu o País pelos últimos
dois anos está longe de terminar”, afirma o Times. O jornal destaca que
a economia deve se contrair 3,8% este ano, a inflação está na casa dos
10% e o desemprego está em alta. O Estado do Rio de Janeiro, sede das
Olimpíadas, está quebrado e, fora da economia, o governo tem que lidar
com uma epidemia do vírus zika, enumera a publicação.
Se o processo de impeachment passar no Senado, como é esperado, a
televisão brasileira terá que dividir a tela em duas, para a transmissão
das Olimpíadas do Rio e do julgamento da presidente, diz o jornal. Além
disso, o substituto de Dilma, Michel Temer, “não é exatamente um
cavaleiro de armadura brilhante”, afirma a reportagem do Times, que
destaca ainda que os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e o do
Senado, Renan Calheiros, também estão envolvidos em escândalos de
corrupção.
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