A ex-presidente Dilma Rousseff disse esta quarta-feira (30) em São Paulo, durante evento da CUT (Central Única dos Trabalhadores), que está em curso um "avanço do Estado de exceção sobre a democracia". Ela comparou a repressão ao protesto contra a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 55 na terça (29), em Brasília, a cenas da ditadura militar (1964-1985).
"Certas cenas que eu pensava estarem enterradas
no passado, na ditadura militar, ressurgiram com uma força muito
grande", disse. "Foi uma repressão descarada, aberta, sem pudor."
A ex-presidente integrou organizações de guerrilha contra a ditadura
militar, como Colina (Comando de Libertação Nacional) e VAR-Palmares
(Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Durante o regime, ela ficou
presa por três anos por causa de sua militância e foi torturada na
cadeia.
Segundo Dilma, a PEC --que prevê um teto de gastos do governo
durante 20 anos-- "compromete a democracia" e traz de volta a "política
neoliberal que tínhamos enterrado em 2003", quando Luiz Inácio Lula da
Silva assumiu a presidência.
Dilma também
falou que a aprovação da PEC do teto de gastos desqualifica o voto e a
política, com o objetivo de fazer com que a população não se interesse
em votar.
"Estão destruindo a nossa capacidade de fazer política."'Construíram um inimigo'
A ex-presidente afirmou que ocorre neste momento uma "perseguição
desmedida aos opositores políticos". Segundo ela, os movimentos de
ocupação de escolas são tratados como inimigos, mas não "a ultradireita
que invade o Congresso para defender intervenção militar".
"Construíram um inimigo. Em nome de combater esse inimigo, todas as exceções são justificadas", afirmou.
Segundo Dilma, um Estado de exceção é "capaz de criminalizar atos que
são legítimos numa sociedade democrática e perdoar outros que não são".
"Não é considerado crime por advocacia administrativa defender que se
libere a construção de um prédio de 106 metros numa área que o
Patrimônio Histórico considerou restrita", disse, em alusão à polêmica
envolvendo o ex-ministro Geddel Vieira Lima, acusado de pressionar pela liberação das obras de um prédio onde comprou apartamento em área histórica de Salvador.
Dilma ainda citou como exemplo do que chamou de "dois pesos e duas
medidas" o caso da delação de Otávio Azevedo, ex-presidente da
construtora Andrade Gutierrez, no âmbito da Operação Lava Jato.
Inicialmente, Azevedo declarou que uma doação de R$ 1 milhão havia sido
feita ao PT, na campanha eleitoral de 2014, como parte de um acerto de
propina no governo Dilma. Depois, a defesa de Dilma divulgou que a doação foi feita em cheque nominal a Michel Temer, então vice na chapa presidencial. O atual presidente nega qualquer irregularidade na doação.
"Aí o delator disse: 'Ops, me enganei'", disse a ex-presidente. "Por
isso que digo: quando não tem crime, se inventa crime. Isso é típico do
Estado de exceção."
Ao comentar o
impeachment que a tirou do poder e levou Michel Temer à presidência,
Dilma defendeu a realização de eleições diretas e falou em um "golpe
dentro do golpe".
"A hora que virar o ano, no
dia 1º de Janeiro de 2017, a Constituição prevê eleição indireta. É isso
que se chama golpe dentro do golpe", disse Dilma, referindo-se ao fato
de que, caso Temer seja deposto ou renuncie ainda neste ano, eleições
diretas, por voto popular, serão convocadas. Em contrapartida, se o
presidente sair em 2017 ou 2018, seu sucessor será escolhido
indiretamente, pelo Congresso.
Dilma não quis
dar entrevista aos jornalistas presentes. À imprensa, disse apenas que
vai se encontrar com Lula esta quinta, sem dar mais detalhes do
encontro. Via Bol.
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