Relatório divulgado hoje (22) pela Organização das Nações Unidas
(ONU) aponta que um equilíbrio entre as chamadas infraestruturas verde e
cinza seja a melhor saída para um uso adequado da água. A chamada
infraestrutura verde concentra-se em preservar as funções dos
ecossistemas, tanto naturais quanto artificiais e na engenharia
ambiental, para melhorar a gestão dos recursos naturais. Já a
infraestrutura cinza está mais relacionada a soluções obtidas por meio
da engenharia civil.
“Soluções baseadas na natureza não estão
limitadas à infraestrutura verde”, explicou a engenheira ambiental da
ONU, Ângela Cordeiro, repsonsável pela apresentação do Relatório Mundial
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018. “É
pensar onde as duas juntas darão o melhor benefício”, acrescentou.
Segundo
Ângela, as soluções verdes têm sua relevância também por “ajudar-nos a
pensar diferente, com contato maior com a natureza e as populações”. Ela
aponta como soluções desse tipo desde os banheiros secos até manejos
adequados do solo e o uso de zonas úmidas para funções ambientais.
De
acordo com o relatório da ONU, a infraestrutura verde apresenta
diversos usos, inclusive na agricultura, setor que, de acordo com a
entidade, é “de longe” o que mais consome água em todo o planeta. Por
meio dela foram desenvolvidos sistemas de irrigação “mais efetivos e
econômicos”.
“A demanda hídrica mundial tem aumentado a uma taxa de 1% ao ano.
Atualmente há 3,6 bilhões de pessoas vivendo em áreas que são
potencialmente escassas de água”, contextualizou a especialista ao
ressaltar que a infraestrutura verde pode também ajudar a reduzir as
pressões sobre o uso da terra, limitando a poluição, a erosão do solo e
as necessidades hídricas.
Representando a Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Alan Bojanic ressaltou a
importância de se evitar o desperdício de alimentos, uma vez que é para a
produção deles que vai a água consumida por agricultores e pecuaristas.
“No mundo, 70% da água doce vai para a agricultura. No Brasil é 67%”,
disse.
“Isso poderia ser amenizado, se levássemos em conta que um
terço dos alimentos produzidos no mundo vão para o lixo ou são
desperdiçados. Para 1 kg de carne são necessários 10 mil litros de água;
e para uma maçã, 100 litros. São muitos zeros”, argumentou o
representante da FAO. “Portanto não desperdiçar alimentos é também uma
boa alternativa para evitarmos o uso inadequado da água”, concluiu.
Entre
os participantes da roda de discussão sobre o relatório estava o
coordenador residente do Sistema ONU no Brasil, Niky Fabiancic.
“Soluções baseadas na natureza são o foco desse documento, e simulam
processos naturais para contribuir com o aperfeiçoamento da gestão
hídrica”, disse Fabiancic. “Precisamos identificar ações que se apoiem
mutuamente, e trabalhar com a natureza. Não contra ela. A combinação
entre as infraestruturas verde e cinza pode sim reduzir riscos, e esse
relatório apresenta boas práticas para escolhas e investimentos
inteligentes”, acrescentou.
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