sexta-feira, agosto 10, 2018

Entidades defendem abate tradicional e ritualístico de animais.

Representantes dos povos tradicionais de matriz africana participaram hoje (9) de uma audiência na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Todos manifestaram preocupação com a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar procedente o recurso extraordinário 494601, apresentado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS). O recurso é contrário a mudanças na lei estadual de proteção dos animais. O texto garante às comunidades tradicionais a manutenção de seus cultos e liturgias envolvendo abate de animais.

De acordo com os representantes dessas religiões, a tentativa de proibir o chamado “abate tradicional, ritualístico e doméstico”, vai além da questão religiosa, e perpassa a garantia da soberania e segurança alimentar e nutricional desses povos.

“O alimento sagrado é o que constitui nossa alimentação tradicional. Não estamos falando de religião. Quando destroem a forma tradicional de produção de alimentos, o que está em jogo é o lucro de uma produção de alimento injusta que não leva em consideração a vida humana como prioritária”, disse a representante do Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais e Matriz Africana, Regina Nogueira,  conhecida como Kota Mulangi.

Ela explica que, segundo as tradições de matriz africana, cada alimento é uma divindade que está sendo incorporada. “Eles querem alterar nossos hábitos e regular nosso espaço. [Caso o STF vote a favor do recurso impetrado pelo MP-RS] voltaremos a estar franqueados pelo Estado, que poder dizer se aquilo que estamos fazendo é certo ou errado”, acrescentou a liderança tradicional.

“Nossa tradição alimenta. Não violenta. Tem doutrina de nutrição”, disse a representante da Teia Nacional Legislativa dos Povos Tradicionais de Matriz Africana, do Rio de Janeiro, Iya Dolores Lima. “Não matamos o animal. Nós cultuamos a tradição, que inclui o alimento. Nós, inclusive, os criamos para termos o melhor animal”, acrescentou o presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, Rafael Moreira.

Apenas dois parlamentares estiveram presentes na audiência: Paulo Pimenta (PT-RS) e Erika Kokay (PT-DF).

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