Em uma cidade que viveu obras constantes para os grandes eventos dos
últimos anos, fazia tempo que um canteiro no centro da cidade não
chamava tanta atenção. A descoberta de 15 ossadas humanas no percurso da
nova linha do veículo leve sobre trilhos (VLT) do Rio de
Janeiro concentrou curiosos na Avenida Marechal Floriano, enquanto
arqueólogos meticulosamente tomavam notas e trabalhavam na coleta de
informações para a retirada de parte dos restos mortais.
Os corpos encontrados foram deixados para trás quando a Igreja de São
Joaquim foi destruída em 1904, em meio às reformas urbanas do prefeito
Francisco Pereira Passos. Construído em estilo barroco, o templo seguia a
tradição católica da época de sepultar fiéis abastados no interior de
sua estrutura, o que faz com que os pesquisadores acreditem que os
corpos sejam de membros da elite carioca de outras épocas.
Três dos 15 esqueletos já foram retirados pela empresa Artefato
Patrimônio Arqueológico, contratada pela concessionária VLT Carioca para
cuidar de todo o material de importância histórica que se esperava
encontrar no caminho dos bondes. O Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) acompanha o trabalho e determinou que o
destino final dos corpos será a Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj).
Coordenadora da pesquisa arqueológica, Madu Gaspar contou que a as
ossadas precisarão ser levadas para um local onde possam secar
lentamente, porque o solo do Rio de Janeiro é repleto de umidade, o que
atrapalhará a conservação.
“O Rio tem uma história antiga. Se for aberta qualquer via,
aparecerão indícios e testemunhas das antigas ocupações. Não só as
coloniais, como as pré-coloniais, antes da invasão europeia”, disse ela,
explicando que o trabalho não é apenas retirar os restos mortais das
covas. “É um trabalho muito lento. Os ossos são frágeis e têm que ser
trabalhados com muito cuidado. É preciso fazer um bom registro, com
desenhos, fotografias e tomadas topográficas para que possamos juntos
reconstruir essa história”.
O arquiteto do Iphan Paulo Vidal destacou ainda que a igreja demolida
tem sua história intimamente ligada à do Colégio Pedro II, que fica ao
lado das escavações. Pesquisadores relacionam a fundação do colégio à
estrutura do Seminário de São Joaquim. Quando o império inaugurou o
colégio, em 1837, foi rezada uma missa com a presença da família real, e
Pedro II, na época com 12 anos, era um dos presentes.
“Houve uma missa, como era de praxe, e provavelmente a missa foi aqui
na Igreja de São Joaquim. A igreja tem uma série de histórias para ser
contada a partir desses achados”, disse Paulo.
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