O escritor Caio Fernando Abreu, a cantora Marina Lima e o médium João de
Deus despertaram a atenção do cineasta Candé Salles, de 42 anos, por
motivos diferentes, mas com intensidades semelhantes. Caio, obsessão do
diretor na adolescência, tornou-se tema de “Para sempre teu Caio F.”,
seu primeiro filme, lançado em 2014. Marina, a amiga que virou namorada,
está no documentário “Uma garota chamada Marina”, com produção de
Letícia Monte e Lula Buarque, e estreia prevista para o fim de abril.
Já o médium João, acusado de abuso sexual por mais de cem mulheres, foi
objeto de estudo de Candé durante cinco anos e resultou no filme “João
de Deus: o silêncio é uma prece”, um ano antes de as denúncias virem à
tona.
— Em nenhum momento vi nada que me fizesse suspeitar dele. A narrativa
do filme era sobre o processo de cura, não sobre o homem — diz Candé.
Quando terminei o filme do Caio, buscava outro personagem forte. Um
amigo me falou muito sobre João e os processos de cura que aconteciam em
Abadiânia. Dei um Google, vi que a BBC, a Oprah e diretores da Alemanha
e da França já tinham ido lá. Achei curioso que um senhor de uma
cidadezinha fizesse operações físicas, sem anestesia, tirasse pessoas
desenganadas da cadeira de rodas. Decidi ir lá. Quando cheguei, entendi:
era um hospital espiritual. Uma meditação coletiva com um poder de cura
absurdo. Tentei me conectar com a luz e pedi que me tirasse a vontade
de beber e usar drogas.
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