O tempo de análise para diagnosticar a tuberculose passou de oito horas para apenas dois minutos
O exame para diagnosticar a tuberculose
ficou 240 vezes mais rápido no Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto graças a uma técnica que permite a
identificação, quase que imediata, da micobactéria causadora da doença. O
tempo de análise passou de oito horas para apenas dois minutos por meio
da tecnologia Point of Care Test (Poct).
O método tem a mesma lógica dos testes
feitos para verificação do vírus HIV, com o uso da saliva. No caso da
tuberculose, no entanto, a amostra usada na testagem rápida é colhida de
uma cultura bacteriológica, por isso ainda há a necessidade de ser
feito em laboratório.
De acordo com Valdes Bollela, professor
da Divisão de Moléstias Infecciosas e Tropicais do Departamento de
Clínica Médica, pesquisadores asiáticos e brasileiros estudam meios para
que o exame seja feito diretamente com os fluidos do paciente. “É a
ideia de ter um teste que seja feito com o menor recurso tecnológico e o
mais rápido possível. O exemplo clássico disso são exames de malária e
HVI, que podem ser feitos fora até do próprio hospital. O da tuberculose
ainda não está assim”, explicou. Ele destaca que, por ser uma doença
infecciosa, o diagnóstico torna-se ainda mais importante. “É a chave de
interromper a cadeia de transmissão da tuberculose”, declarou.
O teste rápido está sendo usado no
hospital de Ribeirão Preto há um ano e meio. “Queríamos avaliar o quanto
ele agregaria do ponto de vista do custo, da efetividade e na rotina do
diagnóstico”, explicou Bollela. Na avaliação dele, o teste mostrou-se
eficaz em todos os aspectos. “Consigo fazer com tempo muito menor. O
custo dele por teste é mais ou menos R$ 10″, apontou. Além disso, ele
destaca que o teste molecular, que era feito antes, trazia maior risco
de contaminação. “Ele requer uma série de cuidados, então não se
conseguia fazer esse exame todos os dias. Conseguíamos fazer duas vezes
por semana”.
A cultura, que é feita na maioria dos
casos com amostra de escarro, demora entre 10 e 14 dias para indicar se
estão crescendo micobactérias. O problema é que, além disso, era preciso
aguardar mais dois ou três dias para atestar a tuberculose por meio do
teste molecular. “Na dúvida, o médico, sabendo que cresceu uma
micobactéria, tratava para tuberculose, mas às vezes não era. Agora, eu
consigo saber com um grau de certeza bem grande se aquilo que está no
crescimento da cultura é tuberculose”, explicou. O Poct permite que,
após o período da cultura, já se defina o diagnóstico em minutos.
“Agora, a gente consegue fazer praticamente de imediato”, disse o
pesquisador.
De acordo com Bollela, a incidência da
tuberculose no Brasil é 90 mil casos por ano. “Desses, entre 85% e 90%
são do tipo pulmonar”. Além disso, cerca de 4,5 mil pessoas morrem
anualmente por causa da doença. “Se você pensar que tem tratamento e
que, se tratar direito na primeira vez, tem chance de cura de 100%,
ainda há muita gente morrendo de uma doença que tem cura”, avaliou o
professor. Ele destacou que entre 10% e 20% dos casos estão associados a
pacientes soropositivos. “Isso piora o prognóstico do HIV e aumenta o
risco de ter complicações com a tuberculose”, alertou.
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